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sábado, 20 de junho de 2015

MUITA SAÚVA E POUCA EDUCAÇÃO

No geral, as pessoas fazem juízo através do senso comum. Também já comunguei da ideia de que em Itaperuna tem uma cabeça de porco enterrada na prefeitura desde antigamente. É assim que se justifica inocentemente que nada de bom é feito pelo poder público em benefício da maioria da população, que não há continuidade dos programas, que isto e aquilo. De correto este pensamento não declara, mas acaba por reconhecer que aqui existe um único grupo de poder. A rigor, não há oposição hoje e nem nunca. Os atores em cena se digladiam, metem falação uns dos outros; mas os roteiristas, os que ocasionalmente saem de seus castelos para atuar na política local com mandato popular nunca se apartaram. São, como meu pai diria, farinha do mesmo saco. Quando não têm uma origem comum, ao menos os enfeixam ideiazinhas míopes incapazes de fazer uma nova cidade.
Refletir sobre os males que assolam nossa terrinha não é listar o que não foi feito e o quanto isso atrasou o desenvolvimento local. Verdadeiramente, o desafio do município continua sendo a Educação. Para quem acredita nela como base para o exercício da cidadania plena, não se faz Educação em Itaperuna a despeito das inúmeras graduações que se oferecem já há algumas décadas nos nossos centros universitários, nas faculdades diversas. Digo isto porque nosso ensino superior está assaz preocupado é com a formação profissional, com o currículo para o mundo das competições, com a marca indelével trazida pelos títulos universitários. Entretanto, o crescimento do número de indivíduos com formação superior em nosso município, paradoxalmente, não influencia o grau de participação da sociedade nos destinos da cidade. No momento das eleições, o reflexo não aparece nem nas candidaturas aos cargos eletivos e menos ainda na boa escolha que se tem feito para a ocupação dos poderes legislativo e executivo.
Nossa cidade faz tempo perde, ano após ano, o bonde da história. De tal modo, já não é mais uma referência regional. Segundo o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), no ano base de 2011, Itaperuna perde a liderança (4 pontos abaixo) para Santo Antônio de Pádua. Em Educação, ficamos abaixo ainda de Aperibé e de Bom Jesus do Itabapoana. Já no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) nosso município empata com Natividade e perde a dianteira para Bom Jesus do Itabapoana em Renda e em Educação.
Achar que não temos problema com a Educação é pura crendice. As nossas escolas municipais juntas nunca alcançaram o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Formamos adultos incapazes de escolher bem seus representantes. Não se trata de reconstruir Itaperuna. Em termos regionais, nós éramos caolhos rodeados de cegos – um favorecimento da natureza frente a inércia. Mas os outros municípios evoluíram. Aqui as saúvas aprenderam a voar.

Originalmente publicado no Blog do Nino Bellieny, em 11/06/2015.
 

domingo, 7 de junho de 2015

A Educação de que precisamos



Este é o ano da 6ª edição do SAEB, que é o conjunto de testes padronizados – Prova Brasil e ANEB – que revela o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) das escolas e das redes de educação do país. Em 2005, na criação do exame, o índice foi de 3,8. Partimos desse patamar para o desafio de alcançar a nota 6,0, que é a média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE – (se você não ouviu falar dela não tem muita importância) em 2022, quando comemoraremos o bicentenário da Independência.
Hoje a sociedade nacional, como um todo, fala do IDEB com alguma familiaridade. Muitas vezes, não tendo a compreensão técnica do assunto, o povo emite uma opinião pautada no bom senso. É comum ouvirmos de pessoas simples que se uma escola, uma rede ou um país não atinge uma meta preestabelecida para a sua educação básica a coisa não tá coisando bem. Traduzindo: se isso se refere à Educação então não se está dando conta de preparar nossas crianças, jovens e adultos para o exercício da cidadania, para o trabalho e para a continuidade dos estudos.
Para se compreender minimamente a lógica do IDEB é necessário pensar o percurso educacional básico brasileiro em três etapas: os anos iniciais do ensino fundamental, os anos finais e o ensino médio. São os resultados da aprovação, reprovação e abandono de todos os alunos matriculados nos anos/séries mais a nota alcançada nos testes padronizados que irão estabelecer o quanto esses alunos estão aprendendo e quanto tempo levam para cumprir cada etapa.
Nos anos iniciais, onde estudam os pequenininhos (1º ao 5º ano), a educação brasileira, na média, está de vento em popa. Nossa meta em 2013 era de 4,9 e nossas escolas públicas chegaram lá. O IDEB foi de 5,2 contando com todas as redes, inclusive a privada. Atingimos em 2013 a meta projetada para 2015. Aqui estamos com o boi na sombra. Menos em Itaperuna, que andou pra trás. Por aqui, atingimos as metas em 2007 e 2009, depois disso, tchau! Em 2013 nossa meta era de 5,7 e somente conseguimos 4,9. Mérito para as escolas municipais Sítio São Benedito e Ver. Elzo Galvão da França, que fizeram o dever de casa. Agora em 2015 precisamos chegar a 5,9. Façam suas apostas!
Nos anos finais, a porca começou a torcer o rabo. O Brasil precisava chegar a 4,4 em 2013, mas não passamos de 4,2. Ficamos muito próximos. Um pequeno esforço pode nos colocar novamente nos trilhos da qualidade e da equidade educacionais nesta etapa. Mas é bom lembrar que a meta para 2015 é de 4,7. Na pedra preta, a E. M Águas Claras e a E. M. Ciep Brizolão 467 – Henriett Amado, cumpriram suas metas; mas o conjunto da obra tem sido triste. Todas juntas, as escolas municipais nunca alcançaram a meta. Em 2013 era de 5,4 ficaram com 4,5. Agora precisam chegar a 5,7. Só Jesus na causa.
O grande desafio é o ensino médio. Pro leitor ter uma imagem do tamanho da encrenca que é a etapa final da educação básica, vou desenhar o quadro (quadradinhos escurecidos é quando se atingiu a meta).

Veja que no último IDEB a meta não foi alcançada pelas escolas públicas (quebrando uma sequência) e nem pelas instituições particulares. Pelo andar da carruagem, se nada estiver sendo feito, o ensino médio do Brasil, que foi reprovado em 2013, tomará pau novamente em 2015.
Olhando para tudo isso, o que eu e as torcidas do Corinthians e do Flamengo ficamos pensando é que quanto mais anos as crianças ficam na escola, mais longe estão de alcançar as metas da educação básica. Ou então precisamos discutir o que se está fazendo com elas nas nossas escolas; os currículos, as metodologias; o clima organizacional; a formação inicial e continuada de professores e de gestores; o salário dos profissionais; o 1/3 para hora de planejamento; e otras cositas más.
Olhando para o que acontece nos países em que a educação escolar tem sido mais efetiva o que vemos são escolas onde as crianças passam pelo menos 7 horas. Já tivemos aqui no estado do Rio de Janeiro uma experiência importante que foram os Centros Integrados de Educação Pública – CIEPs – criados por Brizola e Darcy Ribeiro. Aliás, neste 8 de maio, fez 30 anos da inauguração do CIEP 001 – Presidente Tancredo Neves.
Não tenho dúvidas em afirmar que a educação brasileira perdeu seu grande e definitivo projeto de escola quando os governos de Moreira Franco e Marcelo Alencar (com a ajuda da rede Globo) sepultaram o projeto de educação integral que tinha nos CIEPs sua câmara embrionária. Os prédios, claro, continuaram existindo, porque explodi-los seria mais difícil de explicar pra sociedade.
Hoje, finalmente, é corrente no Brasil a ideia de que a única alternativa educacional capaz de responder à pretensão do país de alcançar o patamar dos países da OCDE é a educação em tempo integral. Mesmo assim, entre os que fazem disso uma bandeira, é preciso separar os crentes numa solução social para tirar as crianças da rua e da violência daqueles que, como eu, só acreditam na escola integral como espaço de formação humana, de valorização e aprendizagem de competências socioemocionais, fulcro da educação do século XXI.
Como educador nestes tempos, tenho a pretensão, agora que universalizamos a matrícula, que estamos mantendo a frequência dos nossos alunos, de buscar uma educação de qualidade e equânime. Somente assim, em algumas décadas, poderemos comemorar uma escola que estabeleça um justo grid de largada para todos os brasileiros. Uma sociedade onde o ponto de partida de todo cidadão seja a primeira fila.

Publicado na OFF - junho/2015