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domingo, 3 de fevereiro de 2013

Nossas biografias pintadas




Juiz de Fora, 21 de janeiro de 2013.

Caro Marcelo, 

Nem sei o quanto a indústria da fotografia impressa vem perdendo mercado, ano após ano, desde o advento das maquininhas digitais, mas deve ser uma enormidade crescente. No meu círculo, só conheço uma pessoa que vez em quando cisma de mandar fazer as fotos em papel. Põe tudo em um álbum que costuma carregar pra lá e pra cá na bolsa que estiver usando. Né enfeite não! O álbum nunca está no fundo da bolsa. Ela tira e exibe. Encanta e se encanta vendo, mostrando e comentando os retratos.
Ainda há aquelas sessões de visita a fotografias que protagonizamos em nossa própria casa ou na de algum amigo entre uma garrafa de whisky ou algumas de Salton Brut , e mesmo entre as de uma caixa de cerveja. Geralmente as fotos mais gostosas são as mais nostálgicas. Fica melhor quando há mais pessoas que viveram aqueles anos embalsamados. E é muito melhor quando não nos deparamos com as inexoráveis ausências que vão crescendo ano após ano até que nós mesmos nos retiramos para sempre sem pedir licença. Mas esse é um outro assunto. Abafa! Continuemos! Não raro ouvimos uma interjeição: _ Nossa, nacredito! _Gentem! _Virge Maria! – à medida que se vão descortinando passados mais ou menos antigos. Há sempre um momento de passar certo retrato de mão em mão, incrédulos com a descrição. _Volta aí, não tinha visto este! _Como era magrinha, coitada! _Cruz credo, que calça é essa! _Olha esse cabelo! Mas para além desse imediatismo, a reunião se encaminha irremediavelmente para um papo biográfico. Então a gente começa a falar de como eram as pessoas e de nós mesmos, da construção da trajetória, do que fez e deixou de fazer, das escolhas, e da sorte ou do azar para os que acreditam nisso.
Penso que quando a gente tem um portarretratos no aparador, na mesa de centro da sala, no criado mudo ou pendurado na parede é menos para que os outros vejam e muito mais para nosso próprio deleite e reflexão. A relação que uma pessoa tem com seus antigos retratos podem dizer muito acerca de sua personalidade. Não falo de saudosismo piegas, de anacronismo e fuga ao passado; mas de sentido histórico, de memorialística, de profundidade analítica, de refletir o presente e o futuro com os lastros do que já foi. Explico melhor: quando vejo fotos antigas fico imaginando o que teria sido se outros caminhos tivessem se descortinado, se outras ruas tivessem sido andadas, se outras escolhas se tivessem sido feitas. Né nada de arrependimento! É exercício de amadurecimento intelectual; de reengenharia fundamental às estratégias de sobrevivência; de abertura ao novo sem a intrepidez da imaturidade que o faz novíssimo demais. Acho que uma sessão de visita guiada a museus fotográficos podem fazer muito bem aos nossos jovens. Isso não são coisas de velho; mas de gente experiente que já foi imatura algum dia. Por paradoxal, pode ajudar-lhes nas escolhas futuras já que nossos adolescentes andam tão sem passado.
A tecnologia tem criado mecanismos para atender ao intenso apelo pela guarda e exibição dos museus imagéticos das nossas vidas. Há portarretratos digitais de todas as polegadas, com fundo musical e sequência temporizada dos slides; há sítios e blogs em que se guardam e publicizam as imagens; há os pendrive para armazenar as memórias fotográficas. Mas o álbum de papel e plástico é indefectível. O que falar das referências ou dedicatórias – desenhos pintados no verso, meu Deus?! – São nossas biografias pintadas. Ter as fotografias entre os dedos das mãos e poder beijar, acariciar, rir e chorar lembranças caras de um tempo demorado, não tem preço. Sinto dizer: quem não tem a oportunidade de ver fotos da sua história – ainda que guardadas por outros – é um pouco mais pobre e mais triste a cada dia.
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Neste primeiro artigo da OFF/ 2013 – escrito aqui em Juiz de Fora (de férias não, estudando muito!) – quero sugerir ao leitor que experimente uma visitação às fotografias do seu velho baú. Começar o ano é, como diria Veríssimo, ter um caderno novo cheinho de páginas em branco a serem escritas pelo nosso protagonismo. As fotos antigas ou muito velhas nos dão a certeza do que queremos e podemos escrever nelas.
Aproveito para saudar publicamente a nova secretária de educação do município de Itaperuna – Aparecida Vargas – e dizer que tenho confiança na inauguração de um novo projeto de educação para nossas crianças, jovens e adultos que busque e alcance a qualidade e a equidade. Conheço todos os propósitos incrustrados secularmente nos agentes da política pequena de nosso município que não sabem e/ou não querem saber de resultados coletivos que não lhes atenda primeiro os próprios e mesquinhos interesses particulares e fisiológicos. Mas também sou testemunha da seriedade, da competência, da responsabilidade e do compromisso com que a nova secretária sempre tratou o serviço público. Por isso desejo a ela muita força na peruca para fazer a educação em nosso município acertar o passo e retomar o rumo.
José Luiz Barbosa

Publicado na Estilo OFF-fevereiro/2013