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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Teoria da Conspiração

A grande nuvem escura
Já me envolveu
Me sinto até batendo
Na Porta do Céu...
Bob Dylan em tradução de Zé Ramalho

O assunto hoje são as coisas que parecem não existir. É! Pois o fato de algo não ter sido realizado – assim tim-tim por tim-tim (com onomatopéia, por favor) – não pressupõe que ele não exista. Estou falando não apenas no plano das ideias, filosofando... Quem é católico, por exemplo, estudou no catecismo que o pecado não se resume a erros concretos (ATOS) cometidos. Têm-se ainda a desnudada da PALAVRA, o danado do PENSAMENTO e a excomungada da OMISSÃO. Então, existem coisas que não vemos, das quais não sabemos, nem ao menos recebemos notícias. Entretanto, elas podem ter a concretude de uma pedra e a sutileza de um poltergeist.
Ultimamente, ando muito interessado na chamada Teoria da Conspiração. Talvez o meu leitor não saiba exatamente o que vem a ser isso. Mas certamente tem a sensação de que não pode ser coisa boa já que conspirar tem o mesmo radical de conspurcar que é sujar, macular. Pois é, a tal teoria supõe que um conjunto de pessoas elabora um arranjo para fazer – em última instância – a sua vontade, ainda que sob a aparência de que está fazendo a nossa ou até mesmo a de Deus. E por que isso é apenas uma hipótese? É porque os danados destroem 99,9% das provas do mal feito. Daí, quando colocados diante de uma teoria dessas, a gente se benze... não acredita. Ou não foi assim que você ouviu dizer que o governo dos Estados Unidos está por trás do “11 de setembro”; a Lady Diana foi assassinada; o Homem jamais pisou na Lua; Getúlio Vargas não se suicidou ou que Tancredo Neves foi “adoecido”? Não vá pensar que os teóricos da conspiração estão por detrás apenas dos grandes eventos. Nada disso, no microcosmo de uma cidade como Itaperuna, por exemplo, há espaço suficiente para os porões da sujeira, da trairagem, do disse-me-disse.
Não por falta do que fazer, às vezes fico elucubrando sobre a política local. Acho que nosso prefeito está numa sinuca de bico. Não vai aqui o julgamento das boas intenções de quem quer que seja, até porque delas o inferno anda cheio. Todo cidadão gostaria de administrar a sua cidade, mas nem todos podem. Depende-se de um mandato, que só se conquista em eleição, pelo voto popular. Esse é o primeiro entrave. Mas às vezes o indivíduo é alçado à condição de colaborador, um secretário, por exemplo, e pode contribuir com a coletividade. Mas isso não é o mesmo que ser o mandatário a quem cabe a responsabilidade última de todas as coisas feitas bem ou mal e também das não feitas que, na maioria dos casos, representam um número exponencialmente maior. Como desgraça pouca é bobagem, todo mundo acha que poderia fazer melhor. No futebol, na medicina, na educação dos filhos e na prefeitura também, muita gente se acha mais capaz do que o efetivo. Por isso não fica satisfeito apenas em dar pitacos nas obras, na condução das políticas públicas, na ética etc. e quer mais. Além disso, o povo é cada vez mais exigente: se fazem a rede de esgoto, pergunta-se logo quando irá começar o calçamento, a iluminação, a coleta seletiva e por aí vai. Nunca vi alguém preocupado com a origem dos recursos. Diz-se logo que “eu pago meus impostos e portanto...” Esse é o povo. Quase invariavelmente não surpreende quem administra. Tirante, claro, aqui na pedra preta, onde há gente capaz de juntar os vizinhos para calçar a própria rua, tampar os incontáveis buracos, capinar, varrer, plantar flores... já que a prefeitura não faz seu dever de casa.
2012 terá eleições. Pra prefeito, inclusive. Mas elas começam agora. E para alguns já é tarde. Santo Deus! É um falatório que não acaba mais. Nesse momento o que há de candidatos a candidato a prefeito ou prefeita é uma enormidade; passam de uma dúzia. E há o instituto da reeleição que, praticamente, obriga o mandatário a se candidatar. E ele sempre “obedece”. Se o nosso prefeito Paulada se candidatar, ficarei me perguntando se três de seus secretários o apoiarão. Dois?! Se um só o apoiar já se estará desafiando as más línguas da cidade. Por outro lado, se ele for apenas a noiva... irão chover nubentes, ainda que as leis brasileiras proíbam a bigamia. Se o prefeito não sabe nada disso, está mais enganado do que personagem de “Insensato Coração”. Ou talvez se fie na condição de caixa de Pandora.
É nesse ponto que entra a Teoria da Conspiração da qual o prefeito é a vítima potencial. Cingiram-lhe os rins e o levam dois pra lá, dois pra cá; pra um partido e prum outro, a um gabinete e outro. Parece até o Zé Ramalho naquele refrão do Dylan, meu Deus. Não conheço cortesãos, ao lado de FSFP, que deseje sua reeleição. Mas fazem parecer que sim. Estão é com os dois olhos em projetos com chance de sufrágio. Mas até lá (o DAS e o status que têm servem!), conspurcam. E a favor de quem?! O leitor é inteligente! Pode responder à pergunta: nas esferas Federal e Estadual, a quem interessa essa reeleição?!Ou ainda existe quem duvide do alinhamento político-partidário das baias de poder? Que não seja você, espero. Os governos de Dilma e Cabral já têm acordos, digo, compromissos. Não é por maldade ou pirraça que impedem o município de ter as verbas de que precisa; é por pragmatismo eleitoral. Esquecem, entretanto, os magarefes que os munícipes têm estômago. Ao povo só resta esperar a secura passar; ao prefeito, estrebuchar. Com a arrecadação sequestrada mês a mês pelas empreiteiras, os aluguéis, os salários e os projetinhos baratos que irão pipocar mais e mais, a última cartada financeira é enfiar goela abaixo do povo a famigerada Taxa do Lixo, que não irá melhorar nada; só manter o serviço da dívida. E tem a pretensa futura distante cobrança de Estacionamento Rotativo... mas isso vai demoraaaaaaaaaaaaaaaaar. Veja que não escrevi uma linha sobre corrupção que, noves fora tudo mais, é avassaladora.
Ontem me deliciei aqui em casa com a comédia norte-americana “A grande barbada”. Quando você estiver assistindo Jay Trotter acertar todas, lembre-se da corrida à prefeitura de Itaperuna. E aproveite para fazer sua aposta e, conspirar um pouquinho que ninguém é de ferro.

 Publicada na revista Estilo OFF - agosto/2011