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domingo, 13 de dezembro de 2009

A VIDA É PRESENTE


São poucos os que vivem o presente; a maioria aguarda para viver mais tarde.
Jonathan Swift

Há um lugar comum que toda gente boa usa: _Nossa! Como este ano passou depressa. O ano ainda não terminara e o sujeito já está decretando o seu fim. Sempre ouvi dizer que, para certas pessoas, nada mais eficaz para acelerar o tempo do que carnês. Nem sei se ainda existem. Agora é cartão de crédito, boleto bancário e tal. De qualquer forma o mês parece chegar mais rápido quando você tem pagamentos a fazer.
Se tivéssemos uma série histórica de pesquisa de aceleração do tempo, fatalmente, verificaríamos que a pressa vem sendo uma das características mais peculiares da modernidade. Depois da revolução industrial incrementada no início do século XIX com suas linhas de produção tão bem caricaturadas por Charles Chaplin em seu magistral “Tempos Modernos” a sucessão dos anos nunca mais foi a mesma. Entretanto, nada se compara a essa revolução da comunicação feita basicamente pela televisão, telefone celular e internet que parece pôr tudo na ordem da hora. Ou seja, de hora em hora tudo muda e nada volta a ser como antes.
Presto muita atenção a esse açodamento social. Parece que vivemos sempre na expectativa. Explico: Um evento tem mais importância pelo tempo em que ele fica no topo da lista das essencialidades do que o seu acontecimento tão fugaz. Veja os casamentos, por exemplo. Acabei de saber, por uma reportagem de televisão, que os noivos capixabas precisam marcar a cerimônia religiosa com um ano e meio de antecedência, que é o tempo em que o evento ocupa as mentes dos envolvidos. Olha o que a indústria e o comércio fazem com as festas no ano! É dia das mães, da avó, do amigo - que parece não ter decolado até agora -, das crianças, dos pais, de Natal, que se não inventaram, se apropriaram. Outro dia li até uma piadinha séria sobre isso: O marketing antecipa tanto o Natal que periga qualquer dia desses Papai Noel tropeçar no coelhinho da Páscoa pelos corredores do shopping. É que o comércio vive disso. Ainda há de se inventar um jeito de faturar com o Dia da Consciência Negra. Sei lá, fazendo fantasias de Zumbi, videogames de Palmares, bonequinhos afro-descendentes de chocolate, essas coisas... Mas enquanto isso não vem, vão desrespeitando o feriado e fazendo os empregados trabalharem sem recompensa. Não tenho nada contra o trabalho e muito menos contra a lei e o direito.
A antecipação do mês, sem dúvida, é a festa de Natal. Aliás, desde outubro vemos árvores enfeitadas pelas lojas. Nesse momento é provável que você esteja ouvindo os barulhentos carros de som tocando aquela versão chata toda vida intitulada “Então é Natal” com que a Simone irrita nossos ouvidos há décadas. E/ou sendo abalroado por gente empacotada com sorriso de vitrine pelas calçadas da cidade.
Os egípcios viviam para o futuro – eram enterrados com seus pertences e tesouros para serem usados numa acreditada vida após a morte. Já os judeus, vivem para o passado glorioso de que se orgulham – desde que não lhes negue nem a miséria que foi o holocausto –, de olho no futuro que é a vinda de um messias que não chega nunca. Já eu – crente de que na vida futura não entram os bens materiais e cujo Salvador já veio e está entre nós –, prefiro, Hic et nunc, o presente cuja origem latina significa aquilo que está ao alcance, e que o nosso povo achou de dar significado de aquilo que é de graça. Em ambos os casos é exatamente o que escolho. Ninguém pode viver no passado ou no futuro. A gente só vive mesmo é no presente.

Publicada na Revista Estilo OFF - dezembro/2009

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

É o batidão


Hoje acordei meio proverbial, porque há um tempo em que ser cartesiano demais também cansa. Já estava disposto a me deixar banhar nas águas do senso comum, quando uma estrela cadente veio cair exatamente na minha caixa de e-mail. Uma amiga professora mandou-me o texto do Projeto de Lei 1.671/08 aprovado na Alerj em 1º de setembro, que tratou de transformar o Funk em movimento cultural e musical de caráter popular. Não tenho preconceito musical; mas, preferência. E nisso sou bastante seletivo. Pus-me a ler o texto, pois é melhor ler qualquer coisa do que ser cego. Também porque não aprovo o comportamento de pessoas dadas a assinar sem ler ou que gostam de repetir o “não vi e não gostei”. Outrossim, sempre quero ver as coisas com meus próprios olhos. Pasmei.

A minha octogenária mãe, que já citei um milhão de vezes, encerraria a polêmica com um “gosto não se discute” ou “uns gostam dos olhos; outros, da remela”. Entretanto eu, que não sou filho de peixe, preciso ir de vez em quando à tona respirar o oxigênio da ciência e consertar a vista na luz do conhecimento, diria que gosto é igual à razão: uns têm; outros não. Aliás, houve um tempo que possuía a crença na indiscutibilidade do paladar. Então aprendi a degustar as comidas com os talheres mais convenientes e a ingerir as bebidas nos vasos mais adequados; percebi como isto faz diferença no sabor das coisas. Os meus críticos dirão que é muito mais natural tomar água numa cuia, ou então, que é tudo igual. Eu lhes sugiro que a partir de hoje só tomem líquidos na concha das mãos, e parem de andar vestidos por aí. Além do mais, quem aqui está querendo ser NATURAL? Não abro mão é de ser CULTURAL. Por isso, irei defender sempre que sensibilidade pode ser aprendida. Daí, o gosto musical, a preferência sexual, a criatividade, a apreciação pelo paladar, o olhar, o tato, o olfato, a audição... tudo pode ser educado, segundo a cultura, para o prazer.

Como desgraça pouca é bobagem, querem me fazer crer que o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica do Estado do Rio é um dos piores do Brasil, porque faltava colocar o Funk nos currículos escolares. Já que é de menino que se torce o pepino, a Secretária de Educação, Teresa Porto, quer, parece-me, que os professores se tornem MC’s e DJ’s disso e daquilo. Já imaginou o professor de Literatura sensibilizando seus alunos para a letra, vejamos, de “Nóis Nasceu Pra Ser Patrão” dos escritores Mc’s Pikeno e Menor:

Nóis Nasceu Pra Ser Patrão(2x)

Varios Carros, Varias Moto, No Pescoço Varias Prata De Whisky e Red Bull e No Baile Funk só As Gata.

É O Menor e o DJ Gá Mlk Top é Nóis Então, Gasta mesmo sem miséria nóis nasceu pra ser patrão.

Nóis Nasceu Pra Ser patrão.

Até então, não achava que toda unanimidade era burra. Mas os deputados estaduais foram unânimes e aprovaram o tal projeto em primeira votação. É por essas, e por outras, que deveria ser obrigatório a todo político eleito que matriculasse seus filhos e filhas na escola pública. Assim, talvez, nosso Ideb fosse pras cabeças.

Costumo dizer que há ritmos para se dançar apenas com o corpo e outros de corpo e alma. Grosso modo, pode-se dizer que o esqueleto dança conforme a música; do andamento mais tenro ao mais frenético. Mas que certas modalidades musicais foram concebidas para separar o corpo da alma e nos fazerem voltar à selvageria – ah! –, isso foram. Lembra aí que havia um hit fazendo metalinguagem disso? Por quase 4 minutos, Mc não-sei-das-quantas ia da velocidade 1 à 5, quando os corpos alcançavam um frenesi ou coisa parecida. Como qualificou o pensador italiano Umberto Eco, é a chamada música gastronômica; feita para ser celeremente consumida, de preferência sentado em uma privada: entra pelos ouvidos e vai descendo rapidamente até sair pelo gosto de cada um.

Prefiro a velha e boa MPB, que tem letra e melodia e pode ser escutada pela eternidade. Talvez por isso, a indústria fonográfica – quem não te conhece é que te compra! – me deteste, pois não sinto necessidade de consumir esses produtos de estação que vem colocando nas prateleiras: remasterizações (série Perfil, por exemplo) de qualidade duvidosa cuja propaganda faz os incautos crerem se tratar de gravações inéditas.

Quanto ao Funk ser um movimento cultural e musical de caráter popular, não sei dizer. Quem sabe nos EUA? Lembrei-me agora que os conceitos de cultura e de música já foram pro brejo com corda e tudo. Num país onde o Sarney e o Collor são imortais de academias de letras; os Dj’s se dizem músicos; um microfone da Cidade da Música no Rio de Janeiro custa R$ 15.586,80 aos cofres públicos; o MST continua lutando por terra e sacrificando pés de laranja alheios; os professores ganham menos que os policiais; os juízes mandam pro semiaberto os fujões perigosos e o Congresso Nacional acha que precisamos de mais 10 mil vereadores... Deixa eu me calar, pois em boca fechada não entra mosquito, até porque aqui, no bairro onde moro, eles estão passando das medidas. E... além disso, gosto não se discute mesmo, lamenta-se.


Publicada na Revista CAE - novembro de 2009.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Acrobacia da consumação

Mesmo não sendo dado a superestimar o passado, tenho saudades de cambalhotas. Todas as crianças, até as que parecem desprovidas de certas habilidades físicas, dão cambalhotas; algumas são capazes de plantar bananeiras por tempos infindos. Quando era menino, e meio gordinho, já ensaiava aquelas cambalhotas, no ar, em que o corpo gira 360° fora do chão. Sabe?! Consegui essa proeza algumas poucas vezes e depois não pude mais, deve ser por causa de ter crescido. Então descobri que gente grande não dá cambalhotas e nem planta bananeiras. Não se trata apenas do impedimento criado pelo enferrujamento do corpo; acho que é porque a alma já não se dispõe mais a brincar. Há também a contribuição do medo: a gente pensa que pode quebrar o pescoço e se entrevar na cama para sempre ou morrer, que deve ser menos pior neste caso.
Ainda que não queiramos, há um dia para se pensar na morte – nossa e dos outros. A cultura ocidental nos ensinou a olhar a morte pelo lado de quem fica vivo. Na magistral obra de Machado de Assis, quando Brás Cubas diz que “não há nada tão incomensurável como o desdém dos finados”, o olhar é do defunto que continua “vivinho da silva” para escrever suas memórias. E a ironia machadiana é tanto mais humana quanto mais tenta nos fazer crer transcendental. De fato, nunca ouvimos ou lemos o pensamento de um morto.
Às vezes cotejamos a vida com a morte. E é por isso que podemos cristãmente desejar a morte para alguém que esteja sofrendo de uma doença incurável, ou que não tenha melhor expectativa de vida plena. Alguns mais abusados querem a morte de quem é mau: _Tomara que morra aquele bandido. Outros ainda desejam a própria morte acreditando que ela seja a solução de seus problemas. Também encontramos gente “disposta” a morrer por outra ou em lugar de outra, por uma causa ou em nome de uma crença.
Fato mesmo é que ninguém fica pra semente. Entretanto, desejamos todos ter uma morte “natural”. Convenhamos! Se nascemos para viver, a morte é algo não previsto, não projetado. Do ponto de vista da ciência, a morte deveria ser apenas e tão somente o fim do ciclo da vida. Como uma árvore que nasce, cresce, dá flores e frutos e, enfim, morre. De um modo ou de outro, ninguém deveria partir fora da hora, não é mesmo?! É muito triste e descabida a morte de uma criança; de um jovem; os pais enterrarem seus filhos; os natimortos. Todos deveriam viver, e bem, até a média de vida da sua comunidade. Isso parece justo. Se não morrêssemos, teríamos de reformar profundamente o sistema previdenciário, o tempo de escolaridade, o seguro de vida, o ingresso na maioridade, a idade indicada para certos programas de televisão, o ECA, o Estatuto do Idoso... essas coisas fugazes.
Mas insisto: se queremos viver muito e bem, é claro que desejamos bem morrer, pelo menos. Admitamos, ninguém quer apagar a lamparina; mas já que isso acaba ficando inadiável, que seja salutar. Então reaprendamos a dar cambalhotas e a plantar bananeiras, pois acho que morrer é isto: um mergulho, um ver o mundo de ponta-cabeça, ir brincar em outra dimensão.

domingo, 4 de outubro de 2009

Sem açúcar, mas com afeto!

Aos professores, fica o convite para que não descuidem de sua missão de educar, nem desanimem diante dos desafios... Pois, se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda.
Paulo Freire

Comi o livro “O clube do filme’ de David Gilmour. O autor, desesperado diante da desorientação e da infelicidade do filho, propõe ao garoto que saia da escola desde que aceite assistir, semanalmente, a três filmes escolhidos por ele, o pai. Não é um livro de pedagogia, mas um roteiro da descoberta da vida adulta por um jovem avesso ao ensino tradicional. Entre outras reflexões, detive-me a olhar historicamente o magistério, a fim de compreender por que caminhos os professores chegaram onde estão.
Na Idade Média, as famílias abastadas contratavam praeceptores para cuidarem da educação de seus filhos. Eram professores particulares, como chamamos hoje, que cuidavam de educar individualmente um jovem para viver no mundo. De lá pra cá, os professores tiveram que aprender a ensinar a grupos de alunos cada vez em maior número e mais diversificados. Portanto, penso que a grande mudança de realidade pela qual passou a profissão de professor vem a ser exatamente o aumento sistemático do número de alunos sob sua responsabilidade e a crescente diversificação do conhecimento. Não se pode dizer que se dá aula - e que se seja professor, portanto - numa turma de 20 ou mais alunos. O que se tem aí é uma palestra, no máximo. Em tempo, é bom lembrar, não existe professor a distância. O que a EAD faz é criar ambientes colaborativos de autoaprendizagem monitorados por carreiros chamados de monitores.
Quem tem mais de 40 anos se recorda de que havia um único professor por série escolar; alguns inclusive gostavam de acompanhar suas turmas pelos anos da educação fundamental. Esse negócio de “áreas do conhecimento” e “disciplinas” é uma invenção da modernidade. As especializações surgem para dar conta da complexidade do saber, mas fatalmente provocam uma fragmentação do conhecimento que agora tem a estanqueidade das “caixinhas” de matemática, de língua, de ciências naturais, humanas etc. Daí a busca desesperada pela interdisciplinaridade, pela multirreferencialidade, pelos temas transversais que, a rigor, só se conseguem juntar no papel e/ou no encontro no dia da culminância da pedagogia de projetos com ares de panacéia. Porque, convenhamos, não existem projetos multidisciplinares; só culminância.
É muito difícil falar de professores e professoras sem se falar de salário e remuneração, pois se corre o risco de ganhar a pecha de omisso. Entretanto, esse assunto foi - me perdoe - “caixinizado”, entende? De toda sorte, lá vai! Ainda que em metáfora. Já percebeu que de uns tempos pra cá os técnicos de futebol são insistentemente chamados de “professor”? Se não é deboche - e acho que não é - os “alunos” os chamam assim porque só têm um. A “turma” é orientada para um fim objetivo - ganhar o jogo e o campeonato. O “professor” é responsável pela escalação, por administrar as “peças de reposição” e responsabilizado pelos resultados. Nunca soube de um técnico de futebol apresentando atestado médico no RH do Clube. Ou fazendo greve por melhores condições de trabalho e salário - que às vezes atrasa. Sempre poderá apanhar da polícia, mas nada que seja deliberadamente. Ou deixando de comparecer aos treinos com ou sem justificativa. As “aulas” são planejadas. O “professor” sempre tem o que dizer na segunda-feira pela manhã. Também ensina, orienta, levanta o astral, anima... Dizem que os proventos de um técnico de futebol são bastante elevados em relação ao piso salarial de um professor e que o sucesso de sua carreira só depende dele e de seus resultados. Se o técnico não agrada aos jogadores e/ou aos torcedores, pode ser demitido.
Nessas últimas décadas, os professores conseguiram um tento: fazer a sociedade ter pena deles. A nossa autocomiseração, a lengalenga contra as avaliações externas, o piedoso discurso corporativista, os equívocos da prática pedagógica, a choradeira geral e irrestrita cunharam a “fama” de coitados. Entretanto, os resultados têm nos angariado as vaias sociais. É inadmissível que profissionais do magistério se autodenominem “sofressores” e chamem seus alunos de “aborrecentes”. É de mau gosto e revela covardia. Acredito no poder que palavras muitas vezes repetidas têm de estabelecer uma percepção equivocada da realidade.
Em verdade, o magistério nunca esteve diante de tantos e tão impacientes desafios. Os currículos tendem a uma extensa e extenuante colcha de retalhos. O remédio para todos os males, acredita-se, está em transformarem-se em conteúdos curriculares formais (caixinhas) a profilaxia das doenças sociais. Não estou reclamando. É uma constatação ululante de quem acompanha os rumos da educação escolar. Não deve ser motivo de protesto nosso que a sociedade clame, que os políticos façam projetos de lei, que os gestores forcem o esgarçamento da grade curricular. É porque se espera muito da Escola... e dos Professores. O pai de Jesse, Gilmour, desistiu da Escola; enxergou no cinema uma possibilidade de sucesso onde os professores fracassaram desgraçadamente. Mas... e os outros milhares de garotos e garotas que só têm a nós?! E, veja: podemos sim, porque somos professores. A Escola pode sim, porque segue - ainda - melhor que a sociedade.

Publicado na Revista CAE de outubro/2009.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

A paz é fruto da educação

A sociedade brasileira está mais uma vez chocada. Dias desses, um dos telejornais de maior audiência do país mostrou um bandido ensinando ao seu filho e a sua sobrinha a assaltar e a matar. Sinceramente, nunca tinha visto algo semelhante. É até mesmo diferente das notícias que temos de exército de crianças treinadas para a guerra no Oriente Médio e na África. Talvez por crer que isso fosse algo muito distante de nós, que não apresentava similitude com nosso país.

A chamada civilização - “preeminência” do mundo ocidental - sempre exercitou seu poder através da violência seja física, moral e/ou psicológica. Contra a criança a violência mostra sua face mais cruel: desequilibra as relações humanas e fomenta sua perpetuação junto à espécie. Mas, temos caminhado em busca de soluções que vão do institucional às tentativas de reeducar os adultos para a convivência em sociedade.

O exercício do poder pela violência faz vítimas principalmente entre as crianças. São elas a porção mais frágil e, portanto, mais suscetível ao sofrimento. Talvez a violência tenha se tornado um modus vivendi da sociedade, isto é, faça parte da cultura de muitos povos. De outro modo não se pode compreender como ela tem permeado a história das sociedades desde a violência física em favor da sobrevivência na disputa pelo território, pela comida, passando pela violência reconhecida - imposta aos “sacos de pancadas” - na Idade Média, até aos modernos meios de violência, tais como: a exposição a certos programas de televisão, a reclusão, a precocidade sexual, o abandono familiar, o incesto, o trabalho infantil...

A comunidade científica está comemorando neste ano o centenário de nascimento de Charles Darwin. Toda polêmica a parte, os neodarwinistas têm lançado o que eu chamaria de luzes sobre a discussão da violência. Segundo o doutor Richard Trembaly da Universidade de Montreal, “os bebês só não matam uns aos outros porque não lhes damos acesso a facas e revólveres”. Claro que essas ideias não são tão originais assim; pensadores como Hobbes e Locke já filosofavam sobre a gênese da violência humana. Destarte não podemos ignorar as causas sociais e muito menos o determinismo genético na composição da impetuosidade da espécie.

O stress do mundo moderno pode toldar de tal sorte a mente a ponto de levar as pessoas a comportamentos violentos como forma de extravasarem a ansiedade ou compensarem perdas. Para além disso, acredita-se que nossa sociedade, esquecida de sua origem de cooperação, optou ou foi levada a optar pela competição. Desse modo, até mesmo a criança pode representar, ainda que circunstancialmente, um competidor a ser derrotado, ou um estorvo a ser removido do caminho, como no intrincado caso Isabella Nardoni.

Numa perspectiva histórica, o que mais chama a atenção é o crescimento da desfaçatez com que a violência é praticada, chegando mesmo a sua completa banalização.

Particularmente, não creio no acaso, nem na sorte, muito menos nas coincidências. Por isso, reluto em compreender o ato violento como manifestação de entidades espirituais, demonismo e coisa e tal. A grande questão, parece-me, não é o como nós aprendemos, ou somos determinados, a agredir uns aos outros; mas como estamos nos educando para não fazer isto.

De novo, na Escola reside a possibilidade de uma sociedade de paz. É lá o único lugar onde não se pode conceber a violência. Infelizmente, os muros das escolas têm sido aumentados quase acintosamente. Em algumas se veem até cercas elétricas. Há alguma coisa estranha aí. Lembro-me de que sentávamos nos murinhos que rodeavam nossas escolas aqui em Itaperuna e nossa comunidade era muito mais feliz. Afinal, estamos nos aproximando ou nos afastando do ideal de respeito, de direito, de justiça com que as pessoas em sociedade se devem tratar? Mas o caminho é mesmo esse: educar para a não-violência, através do resgate permanente da cidadania, e combater a violência através da lei.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL


Quando eu era menino pequeno lá em Retiro do Muriaé, quase ninguém pronunciava alguns dos nomes de Satã. Além do medo que nos fora impresso pela cultura cristã de atrair o Capeta, os designativos de Satanás eram todos considerados palavrões que só os meninos mal educados ousavam xingar. As pessoas mais velhas, ao precisarem falar o nome do Bicho Ruim, usavam o qualificativo “inimigo”. Então, diziam que o Inimigo tentou fulano de tal, por isso ele matara sicrano ou beltrano, ou roubara alguma coisa, ou teria tido um comportamento inconveniente qualquer. E depois, esconjuravam-se e persignavam-se como para se livrarem de ter atraído o Tinhoso ao pensarem nele ou ao proferirem seu apelido. Naquele tempo, o povo atribuía a qualquer atitude humana fora dos padrões sociais a uma tentação do Príncipe das Trevas. Nos casos mais graves, de repetidas safadezas, dizia-se que o indivíduo estava endemoninhado, possuído por Lúcifer; só um exorcista poderia dar jeito. Era a crença romântica de que toda criatura nasce boa, que o batismo a torna ainda melhor e a conversão, definitivamente, a faz santa. Uma forma de eximir a todos da responsabilidade por seus atos, atribuindo-os a alguma inexorável força alienígena.

Mesmo hoje, quando a sociedade avança na compreensão da natureza humana e da organização social, há espaço para reduzir tudo à eterna disputa entre Deus e o Diabo, entre o bem e o mal. O corpo social brasileiro é majoritariamente mítico por força de uma colonização de base cristã. Aliás, essa mistura mística e de raças, que faz a originalidade do nosso povo, leva-nos a uma percepção da realidade quase sempre opaca. É como diria Roberto Campos – por quem nunca tive simpatia -, o brasileiro é a mistura da cultura do privilégio, com a da magia, com a da indolência. Eu diria que é por isso que nos impingimos e aceitamos axiomas como “o brasileiro tem memória curta”, “daqui a pouco já ninguém se lembra disto” e outros.

A manter a crença de que o país é o centro da disputa entre Deus e o Pai da Mentira, o campeonato já está praticamente perdido pela agremiação celeste. Ainda mais depois desses últimos jogos em que o senado brasileiro vem vencendo todas por W.O. Deus do céu! Claro que sei não haver nenhum santo lá no Congresso Nacional - viu o Pedro Simon tremendo sob as ameaças de Collor? Afinal, terem um Conselho de Ética e Decoro Parlamentar - já há projeto para acabar com o CEDP, não se precisa mais - é só outra das enganações do Tinhoso. São as más influências do Demônio que têm feito o presidente do senado, que também é imortal, negar o inegável, certamente. Ele é um bicho atentado. Tenho uma colega de trabalho que, diante da tragicomédia dos ditos e desditos, acha que o Sarney está ficando doido; esta é uma outra forma de dizer que a culpa não é dele; também, com uma biografia daquelas...

Mas, chegue o ouvido aqui, mais perto: o que está acontecendo com o atendimento dos postos de saúde em Itaperuna? Parece que erram todos os diagnósticos. Quem autorizou o assassinato de uma árvore de 26 anos que dava uma bela sombra na praça central de Itajara? As saúvas disseram que a danada jogava muita folha no chão; que lhes davam bastante trabalho pra varrer. Hum! quem tá vencendo o jogo por aqui?!

Lembro-me do Macunaíma, de Mário de Andrade, trepado num caixote dizendo que os males do Brasil - e de Itaperuna, portanto! - é “pouca saúde e muita saúva". Mas, a culpa... deve ser do Diabo, é claro!

sábado, 5 de setembro de 2009

Pacata gente brasileira

Os grilhões que nos forjava
Da perfídia astuto ardil
Evaristo da Veiga

Com quase oito mil palavras, Pero Vaz de Caminha faz uma narrativa-descritiva a D. Manuel I mostrando-lhe o Brasil de 1500. No último parágrafo, pede um favor ao rei: “...peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro...” O talzinho fora condenado ao exílio por ter aprontado coisas do arco da velha em Portugal. A Carta de Achamento é chamada por muitos estudiosos de Certidão de Nascimento (e de Batismo, por certo) do Brasil. Parece-me que o escrivão imprimira indelével marca no caráter da nova nação.

Creio que a expressão “jeitinho brasileiro” pode ter começado aí; o adjetivo é só a qualificação do local ou porque praticado na terra brasilis. Mas, façamos justiça, não há indícios de ter sido uma invenção nacional. É que, como o próprio Caminha intuíra sobre a nova terra “querendo aproveitar, dar-se-á nela tudo” inclusive o fisiologismo que esfervilha aqui, sobretudo no lamaçal de Brasília, e multiplica-se “como larvas no esterco”.

Neste mês, comemoramos o 187º aniversário da Independência. Que naquela época representava apenas um jeitinho para que Dom João VI pudesse voltar para Portugal e manter o poder (Dom Pedro I) sobre o Brasil. Já o jeito mesmo foi o caso da maioridade de Dom Pedro II - coroado aos 15 anos para que o pai pudesse ser rei em Portugal. Mas antes houve um jeitão dado pela constituição de 1824 que criou um Legislativo Bicameral (Câmara e Senado) a fim de ajeitar uma cadeira vitalícia aos coronéis (como o presidente do Conselho de Ética, por exemplo) que não tinham voto, mas dominavam a economia e a política nas províncias (estados). Fica instituído o Senado.

Ao longo de nossa história, o Senado foi descrito como uma casa onde os anciãos da nação criavam e revisavam as leis para melhorar a vida da gente. Fiquei fuçando, neste fim de semana, os princípios de criação e organização da casa. Descobri que alguns estudiosos do direito constitucional apregoam que a organização do Poder Legislativo não é cláusula pétrea (imutável). Portanto, podemos sim abrir o debate sobre a conveniência do sistema bicameral - pra ficar barato! -, pois a existência de um legislativo corruptível e corruptor como o nosso - Valha-nos, Deus! - é pra se discutir. Mas, sejamos um pouco mais pacientes e, com jeitinho, debatamos apenas a “Casa dos Horrores”, como foi chamado o senado brasileiro pela revista inglesa “The Economist”. Gente, são 81 senadores que precisam de 10 mil servidores para os paparicar! É um pouco demais, não é?! Nem há espaço aqui pra falar dos últimos escândalos de suas excelências, pois a lista estará sempre desatualizada. Aquilo é mesmo uma casa de criar e manter escândalos de mal uso do dinheiro arrecadado com os impostos que eu e você pagamos. Desgraçadamente, o calor destes trópicos favorece a gestação e proliferação não apenas da dengue e da gripe suína; mas, do fisiologismo, do clientelismo, do corporativismo, enfim, da corrupção generalizada tão visível no senado brasileiro, que se assemelha mais a uma casa de tolerância.

Neste 7 de setembro, não posso dar vivas à Independência. Continuamos colonos desde que nascemos (!) em 1500. A luta pela independência continua hoje por um Brasil livre da corrupção de seus agentes públicos; de mansões milionárias escondidas do Fisco; de estadias de apaniguados pagas com dinheiro público; das passagens aéreas distribuídas na base de favores eleitorais; das verbas indenizatórias que são um segundo salário; de horas-extras pagas no recesso; das benesses todas que têm os mandatários desse país, que são um acinte ao povo trabalhador... Ou locupletemo-nos todos com os favores da má política e, como Caminha, beijemos “as mãos de Vossa Alteza”.


Publicada na Revista CAE de setembro

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

MÃOS À PALMATÓRIA

As pessoas começam a envelhecer quando dizem “no meu tempo não era assim...”, quando eu era moço...”, “antigamente é que...”. Dizem isso, invariavelmente, por uma dificuldade de compreender e aceitar a realidade. Não estamos falando aqui de idade cronológica; mas mental, comportamental. Ao contrário dos seus contemporâneos, minha mãe sempre diz que tempo bom é o de hoje. E desfia um rosário de dificuldades que viveu na sua juventude em elogio às novas tecnologias que exemplifica com o chuveiro elétrico, o ferro de passar roupas a vapor, o fogão à gás, o liquidificador etc. Ora, até mesmo para este quarentão, é difícil entender a vida sem essas facilidades tecnológicas nem tão novas assim. Acho que herdei dela esse sentimento evolucionista. Não posso admitir que a humanidade ande em algum momento para trás. A história ajuda a compreender o presente e até orienta o futuro. Entretanto, ela não é uma alternativa de vida.

Tenho ouvido muitos discursos surrealistas, sobretudo dentro da Escola, apregoando a volta de certos valores do passado - mais ou menos na base do “vigiar e punir” - que resultassem em joelhos nos caroços de milho, mão à palmatória e que tal. Um saudosismo meio mórbido e fantasioso de que seja possível viver esses tempos tão dinâmicos e inclusivos de hoje na base dos vinte quilômetros por hora, velocidade que os automóveis alcançavam em mil e novecentos e antigamente. E, o que é pior, dentro de ternos de casimira e vestidos plissados.

Neste dia 11 de agosto também se comemora o dia do estudante. Apesar de a data ter sido criada numa referência à instalação de dois cursos de Direito, sempre penso no dia em relação às crianças e aos jovens. Isto porque na minha cabeça a infância e a juventude são os melhores e mais proveitosos momentos para se estudar sistematicamente. Além disso, gosto de ver a vitória da infância e da juventude na luta secular pelo reconhecimento de sua cidadania e de que este período da vida é produtivo, pois estudar é também uma forma de trabalho, ainda não remunerado.

O cientista inglês David Bainbridge, um evolucionista, tem afirmado ser entre os 11 e 20 anos que muitas das habilidades humanas são desenvolvidas. E vai mais adiante: “Sem a adolescência, os seres humanos não passariam de uns bobos incoerentes dotados de um cérebro enorme.”. Muita gente inteligente já sabia disso, mas reluta em aceitar. Já a minha aversão é pela situação que os números do Laboratório de Análise da Violência da Uerj revelaram esses dias. Segundo os dados, “cerca de 33.504 adolescentes brasileiros - de 12 a 18 anos - serão assassinados em um período de 7 anos, que vai de 2006 a 2013”, se nada for feito pelos governos e pela sociedade.

Se continuarmos perdendo nessa proporção os nossos jovens, de um lado pela violência homicida e de outro por uma Escola cujos professores querem uma clientela adestrada e disciplinada que não lhes dê muito trabalho para escolarizar, a falência é certa como o dia amanhecerá, queiramos ou não.

Por isso, desejo prestar esta homenagem a todo estudante desse país. Fazer hoje um mea culpa, por que não?! Somos nós que existimos para você e não o contrário. Desculpe-me e aos meus colegas professores:

Por querê-lo igual aos outros;

Por desdenhar dos seus direitos;

Por debochar do seu desconhecimento;

Por ter feito a pegadinha na avaliação;

Por “valorizar” os seus erros;

Por menosprezar seus acertos;

Por não ter preparado a aula;

Por não entregar os resultados em tempo;

Por compará-lo;

Por não reconhecer o seu time;

Por tentar convencê-lo das minhas verdades;

Por buscar cooptá-lo;

Por ter faltado à aula;

Por ter usado você para uma desculpa;

Por tê-lo chamado de preguiçoso;

Por ter sido deliberadamente injusto com você;

Pela impaciência;

Pela intolerância;

Pela covardia;

Pelo mau juízo;

E por tudo que fez você sofrer.

Professor Zeluiz

Centro Interescolar de Agropecuária de Itaperuna

Crônica publicada na Revista Canal da Cultura - CAE de agosto/2009

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Taí a Mutação da Evolução


Só acredito em sorte de quem trabalha, pois o acaso é apenas uma impertinência filosófica. O resultado da XIII Agrogincana do CIE é a constatação da tese de que o planejamento estratégico, aliado à força da execução, é decisivo para os resultados. Além do mais, esta gincana nos trouxe um novo olhar sobre a questão da competição.

Gosto de pensar a vida como um jogo dramático, um roteiro teatral onde cada pessoa precisa desempenhar sua função, sob pena de pagar um preço muitas vezes alto pela incúria. Se alguém, pelas mais diversas razões não joga bem ou não cumpre o seu papel, o jogo não se acaba, mas o roteiro será refeito quantas vezes forem necessárias para a manutenção do contrato, isto é, ninguém teria, sozinho, força para finalizar prematuramente os projetos de um grupo. O show não pode parar.

Antes e durante esta gincana, as teses de Maquiavel me perseguiram desafiando minha inteligência e meu entendimento. Os conceitos de virtù e fortuna importunaram o meu sono por dias. Desde o sorteio das equipes da gincana me deparei com um pensamento novo: não fiquei desejando estar numa ou noutra equipe, nem que estivessem comigo estes ou aqueles professores e alunos. Quando o meu nome foi sorteado para a equipe 2, pensei imediatamente: é esta! é nesta equipe que estou e pronto. É aqui que vou trabalhar! Naquele momento senti a virtú, a energia dirigida para um objetivo. Porque não acredito em sorte, ou fortuna; entendi que a equipe 1, a 2 ou a 3 são iguais em riqueza de oportunidade, em desafios, em peleja. Mas o senso de oportunidade, o planejamento estratégico, a determinação é que podem garantir o êxito. Aliás, o sucesso nem sempre está no mais alto do pódio. Explico: quando um aluno (isto vale para o professor, para o gestor) não acerta uma resposta ou não evita um gol decisivo, mas fez o melhor de si, então este é o resultado. À superação dos nossos próprios limites é que chamamos sucesso invariavelmente definitivo e irreversível; aos limites dos outros é a fama, sempre passageira e fugaz. Estou falando isso para citar um único aluno de toda essa festa que foi a nossa gincana e, ao proclamá-lo uma espécie de exemplo da nossa maturação, homenageio a todos e a todas que deram o melhor de si. Trata-se do Edson Barbosa. Quem já o conhece há 2 ou 3 anos sabe o que significou para ele ter representado sua equipe numa tarefa em que se tinha de responder publicamente perguntas sobre a revolução cubana. Mas quem é da Equipe 2 testemunhou o Edson aceitando o desafio enjeitado e/ou abandonado no meio do caminho por alunos mais famosos. No quadro de professores e gestores, o CIE de Itaperuna conta com várias guerreiras. Aqui quero destacar a professora Fátima Goulart pelo sangue, pelo suor e pelas lágrimas de apreensão e de alegria que derramou antes, durante e depois da grande festa.

Definitivamente não há como, a cada ano, evitar que a nossa gincana se transforme numa grande superprodução de trabalho, de criatividade, de despojamento e de resultado. Há coisas que são mesmo inexoráveis... e aí, inclua-se a questão do financiamento das equipes, um assunto palpitante que teremos de discutir para fazer avançar a organização da agrogincana e dar equidade à disputa.

Acredito que esta gincana foi a do PLANEJAMENTO. Não estou falando da tentativa de adivinhar o que seria pedido, por exemplo, nas tarefas relâmpago. Refiro-me a se preparar bem, a criar todas as condições para realizá-las e a uma postura que, desde o início, os professores parece terem combinado: “A gincana é dos alunos, portanto são eles que a realizam.” Planejar não é estabelecer um roteiro imutável a ser seguido a ferro e fogo, mas engendrar diretrizes que permitam incitar a criatividade, aceitar o improviso e, claro, delegar responsabilidade.

Antecipar resultados é sempre uma temeridade. Mas, se a equipe “Evolução” não foi o maior sucesso desta agrogincana, então de nada terá valido a definição da missão da equipe; a análise da situação; a formulação dos objetivos; a criação das estratégias; a implementação do planejamento; o feedback e o controle. Entretanto, a esta hora, tudo isso já será história que contaremos, a partir de hoje, pelos próximos anos.

Esta XIII Agrogincana não foi apenas a melhor porque está mais próxima de nós. Foi muito melhor, pois estabeleceu um marco na construção da comunidade escolar: aprimoramos o sentimento de solidariedade exercitando o despojamento (não estamos falando de compaixão apenas, mas de justiça); vencemos a competição contra a disputa mesquinha (Não era um troféu de primeiro lugar o objetivo que moveu cada equipe) e demos um definitivo passo rumo à maturidade social (o respeito, a fraternidade, o cuidado para além das alfândegas de cada grupo). Todas as equipes são vencedoras neste evento, porque mesmo não tendo “ganhado” esta ou aquela tarefa, elas se superaram a si mesmas dando o melhor de si. E se fizemos mesmo isso, a Educação, mais uma vez, cumpriu o seu papel, a sua missão: fazer evoluir.


Texto de Avaliação da XIII Agrogincana do Centro Interescolar de Agropecuária de Itaperuna escrito antes da proclamação do resultado da gincana.

Professor Zeluiz

Equipe 2 - EVOLUÇÃO

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Outro olhar sobre a Escola

A sociedade acredita que educação e escolaridade são a mesma coisa. É por isso que se imputa aos graduados um respeito meio obsequioso ou uma deferência subserviente. Há bem pouco tempo, não se admitia um presidente da república sem os estudos superiores que o faziam DOUTOR em alguma coisa. Mesmo que o prefeito ou o deputado não tivessem formação universitária, logo lhes arranjavam um “deerre” por conta do mandato. No campo do caráter profissional, data da idade média o uso da palavra doutor para designar aquele que tinha alcançado autorização para lecionar. Afinal, o vocábulo tem origem no latim docere que significa ensinar. Hoje em dia, como resquício da sociedade medieval, os graduados em direito e em medicina, por exemplo, mantêm o privilégio de serem tratados de doutores. Entretanto, legalmente, só os que concluem uma pós-graduação stricto sensu conquistam a prerrogativa - ainda sem a consagração do uso - dos títulos de mestre e doutor. De toda forma, as palavras perderam sua ligação histórica com o ato de ensinar para privilegiar o status social de um outro exercício profissional qualquer como advogar, construir pontes, cuidar da saúde de animais etc.

A eleição (2002) do presidente Lula quebrou, certa e certeiramente, a premissa de que a escolaridade seja um pré-requisito ao cargo mais alto da nação. Para os críticos do presidente, sua eleição abre um “terrível” precedente: as nossas crianças não irão querer mais estudar, uma vez que não será preciso de escolaridade para se chegar ao mais alto cargo dirigente do país. É a isso que chamo de sofisma, um argumento aparentemente válido colocado como pedra no meio do caminho para fazer-nos tropeçar na mentira. Não há nenhuma contradição no fato de o mesmo Lula - ainda chamado de analfabeto pelos que acham a escolaridade mais importante que a educação -, que denunciara haver mais de “300 picaretas com anel de doutor” no Congresso Nacional, ser o responsável por um programa como o ProUni, que só no ano de 2008 ofertou mais de 200 mil bolsas a alunos pobres que de outra forma nunca chegariam a ter um título de doutor. Agorinha mesmo, o ministro Haddad está propondo o fim dos vestibulares, que eu sempre achei uma excrescência, em favor do Enem. Todos os especialistas acreditam que, em sendo assim, haverá uma intensa reformulação, que já passou da hora, no nosso Ensino Médio com importantes consequências que se espraiarão até os primeiros anos da escolarização.

Em grande estilo, a nossa Revista Off abriu na última edição o debate sobre a Educação. A abordagem foi a cerca dos conflitos dentro das salas de aula entre alunos e professores sob a ótica da busca de culpados. Eu não posso me furtar a discutir essa temática. Se contar os tempos da catequese, estou nessa peleja há mais de 20 anos. Quero aqui dar umas no cravo e outras na ferradura.

Uma ex-aluna do ISE de Itaperuna contou-me uma vulgaridade e pediu-me que acreditasse, pois ela fora testemunha dessa peça de um ato só.

(mãe espera para conversar com a professora. As duas tentam dialogar no pátio enquanto a pequena - 6 ou 7 anos - rodopia entre as duas atrapalhando a conversa. Na impossibilidade de continuarem o diálogo porque a criança perturba, a mãe, impaciente, dedo em riste, aponta para a menina.)

_ Menina danada, sua professora não te dá educação não?

Na raiz dos conflitos na escola estão alguns componentes evidentes e outros nem tanto. A fala acima revela, aqui sim, uma contradição entre escolaridade e educação. Ao cobrar da filha um comportamento civilizado, a mãe manda uma mensagem oculta para a professora: você não está fazendo o papel que eu te dei ao matricular minha menina nesta escola.

Os professores, mesmo sem títulos de mestre ou doutor, precisamos cair na real. A despeito dos velhos discursos de que não estamos preparados para isso, não somos psicólogos, não somos assistentes sociais, não somos fonoaudiólogos, não somos neurologistas... a sociedade e os governos já nos entregaram esses papéis faz tempo. Estudemos! Afinal, nós temos ou não metodologia?

_ Não ganhamos para isso!

É muito mais honesto dizer que não queremos investir nisso.

_ A família não participa, não podemos contar com ela.

Faz tempo que já sabemos disso. Por que não assumir o papel e mudar o disco da vitrola. Qual é o motivo: egoísmo, misantropia ou incompetência?

_ Essas crianças não têm limites, não nos obedecem.

Reconheçamos! Alguns de nós temos práticas pedagógicas tão antiquadas que os alunos não acreditam que estão diante de algo real, mas de uma fantasia. E por isso dizem que a escola é extremamente chata. E eu, algumas vezes, sou obrigado a concordar.

_ Ah! Acho que vou pegar um atestado...

Viva! Hurra! Assim é que irão festejar os alunos a nossa ausência. E é assim mesmo que estamos roubando deles a oportunidade de escolarizá-los e de educá-los para a vida toda. A nossa ausência consentida e forjada nos põe no mesmo patamar de suas famílias distraídas e alheias.

_ Por que não baixam a maioridade, então? Temos bandidos aqui na sala.

Então devíamos mandar também para a cadeia os doentes, os mendigos, os órfãos e as viúvas? Somos os mesmos que desejamos um sistema penitenciário que eduque e reintegre os criminosos?! Ah, valha-me Deus, professores e professoras, se nós não pudermos educar nossas crianças, entremos de férias ad aeternum.

Mas, é claro, que eu mato um leão por dia em minhas turmas. Antes disso, eu penso muito no que irei falar com eles na segunda-feira de manhã. Não chego de mãos abanando e nem acredito no poder fascinante e “disciplinador” do quadro negro, do cuspe e do giz. E gosto de ver naquele mais remelento um filho meu. Dialogo.

E sempre me enfureço com os maus exemplos sociais, quando procuro dar aos meus alunos um “choque de futuro” - fazendo-lhes pensar no que querem para suas vidas. Fico fulo da vida com os escândalos dos políticos na malversação do dinheiro público, com as descomposturas dos ministros do STF. Encolerizo-me de ver o apelo ao consumo de bebidas alcoólicas ajudados por ídolos da juventude como Ivete Sangalo, Dudu Nobre e Ronaldinho. Fico irado de verdade ao ver um jornalista como o Pedro Bial chamar os “bródi” de nossos heróis. Entretanto, não posso levar minha sala de aula para Marte; fazer o governador ou o prefeito aumentar o meu salário; melhorar a conexão do meu laptop emprestado pelo Estado; formar uma turma só com os “bons” alunos e alunas; reformar os currículos oficiais da educação; convencer as famílias a cuidarem melhor dos filhos e a participarem do processo educativo e escolar; persuadir os traficantes a não usarem menores na distribuição de drogas; impedir que maus pais espanquem seus filhos; refazer o ECA; adotar o período integral em todas as escolas de educação básica do Brasil.

A Escola vive uma crise? Sim. A Escola é uma crise, um lugar de atritos e de mudanças. É na dinâmica dos encontros e desencontros que polimos uns aos outros e nos transformamos, isto é, educamo-nos. Às vezes essa fricção causa certo incômodo, pois remexe as convicções sedimentadas da formação profissional dos professores. Muitas vezes precisamos fingir esperança. Claro que não é fácil superar todos os desafios impostos pelo dia a dia do processo educacional, as idiossincrasias! O que me dá força e determinação nas ocasiões de ceticismo e cansaço é uma frase de Sartre: "O importante não é o que fazem de nós, mas o que fazemos daquilo que fazem de nós.” A escola é, ainda, indubitavelmente, uma casa de Educação onde nossos filhos e filhas alcançam, também, para efeitos formais, a escolarização. A escola segue... melhor que a sociedade, pois é feita de educadores.

Professor Zeluiz

Centro Interescolar de Agropecuária de Itaperuna

http://professorzeluiz.blogspot.com/

quarta-feira, 8 de abril de 2009

No balanço dos dias

Nada como um dia atrás do outro

Tenho essa virtude de esperar

Roberto Correa e Sylvio Son


Pelo Brasil afora, muita gente provavelmente está fazendo análise dos 100 dias de governo municipal. É quase uma lei de imprensa que se façam cobranças, se relembrem promessas, se cobrem atitudes do prefeito empossado em 1º de janeiro. Não sei o quanto há de cabalístico nesse número redondo de dias, mas é fato que nos acostumamos a dividir o ano em seções semestrais, quadrimestrais, bimestrais... coisa de uma mentalidade cartesiana que insiste em nos fazer ver do todo, só uma parte de cada vez. Mas é com essa lógica que a crítica escarninha trabalha. E, ainda costuma usar a maquiagem do senso comum – “pelo andar da carruagem...” – para dar à coisa um ar mais verossímil e sapiente. O diabo é que nessa conta, quase sempre, só entram os débitos (mesmo os de médio e longo prazos); alguns créditos ficam por conta do “não fez mais do que a obrigação”.

De toda forma, os primeiros cem dias do ano não deveriam entrar na conta de nenhum balanço, pois o ano novo nunca começa quando termina o velho. Não é à toa que sempre estamos diante de anos que não terminaram como o de 1968 – dando o que falar e escrever ao Zuenir Ventura – insistindo em se sobrepor até aos recentes anos deste outro século, quando desenterram seus mortos e nos surpreendem com seus fantasmas insepultos. Porque, na verdade na verdade, os trinta-e-um-de-dezembro não encerram nada, apenas a validade da folhinha amarelada pendurada na parede.

Há ainda os anos que não começam. Aliás, acho que os anos não se iniciam aqui no Brasil, pelo menos até o carnaval. Então já são cinzas e ficamos 40 dias esperando a ressurreição que não é um ano novo; mas, um (re)começo.

Gosto de reler uma crônica do Veríssimo intitulada “Caderno novo”. Ele e alguns amigos se reúnem para eleger a melhor sensação do mundo entre as publicáveis, mesmo numa revista de vanguarda como a ESTILO OFF. E concluem, não sem dificuldade, ser o caderno novo. Amo essa metáfora. Porque a despeito de hoje em dia as papelarias nos quererem “enfiar” fichários caríssimos em cujas capas se estampam um ícone qualquer da efemeridade – em três ou quatro meses a moçada inventa um jeito de fazer a família comprar uma nova capa – o velho caderno-novo é um mundo vasto.

Lembro o meu caderno de pauta com as folhas juntadas com dois grampos que não permitiam tirar meia folha da primeira metade sem comprometer a correspondente da direita. Com suas páginas em branco ainda por serem escritas; aquele mundo de folhas-dias que a gente imagina que terá e, o que virá, folheando depressa com o polegar de uma máquina de contar dinheiro. Tudo branquinho: um convite pra tantas coisas... o indicador molhado no mataborrão da boca a passar uma a uma as páginas virgens; o roçar com a mão espalmada cada centímetro de celulose; o cheiro inebriante de novidade... uma sensação de possibilidades incontáveis.

Diante do caderno novo – um ano que não começou –, que encapávamos no último gosto e com plástico também, jurávamos solenemente mantê-lo limpo e em dia. Prometíamos ser cuidadosos; cidadãos respeitáveis; pessoas melhores... essas coisas que se dizem em juramentos. Entretanto, vinham a roda viva das horas, o balanço dos dias e a rotina das semanas e, então, voltávamos a ser os mesmos e a vivermos “Como os nossos pais”. Mas aí o caderno já não era mais novo... – um ano que não acabou e nós já torcendo pro apito final.

Quando me permito ser menos egoísta, vislumbro os interesses sociais. E me preocupo com as pessoas e com as demandas de todos nós. Por isso acho que 2008 não se acabou graças a pelo menos três eventos que invadiram 2009:

  • A imprensa diz que o mundo saúda a eleição e a posse de Obama como se fosse o salvador do planeta e o apaziguador dos povos. Muitos concordam com isso pelo fato de o presidente ser jovem e negro. É preciso saber, contudo, o quanto ele se sente negro; não nos esquecer de que é norte-americano. E, quanto ao fato de ser jovem, nós itaperunenses somos gatos escaldados.
  • O senado insiste em aumentar o número de vereadores pelo Brasil afora. Minha nossa! Pensei que a democracia caminhasse para o fim do Legislativo com o povo interagindo no ciberespaço, tomando decisões online nos referendos e plebiscitos na web e no celular, mas não! Aumentam o número de vereadores para afastar-nos cada vez mais das "decisões". Será que os senadores não sabem que vereador só cria firula para levar ainda mais vantagem do prefeito que precisa ter maioria – ainda que comprada – para administrar? Aliás, por falar em senado... Deixa pra lá!
  • A enchente de dezembro deve ser um fantasma a cobrar planejamento do novo governo municipal. É mister reconhecer que a natureza foi a grande atriz do cataclismo. De toda sorte, não podemos esquecer de que algumas ações públicas como o desassoreamento do Rio Muriaé, um projeto de drenagem urbana, uma usina de reciclagem do lixo, o reflorestamento das encostas, o arco viário da BR 356 e outras teriam minimizado esta catástrofe e acabado com tantas menores que nos azucrinam o ano inteiro.

Sinceramente, 2008 já vai tarde, se deixarmos. O nosso prefeito Claudão, a esta altura, já tem encapado o seu caderno novo, com juramento solene e tudo mais. Já escrevera algumas linhas caprichadas: o socorro às vítimas mais sacrificadas pelas enchentes, a coleta de lixo, o calçamento da entrada de Retiro do Muriaé, o carnaval... Por falar nisso, dá pra fazer muita coisa agora que Momo já devolveu a chave da cidade: mudar o clima, reescrever um plano urbanístico, reconstruir a cidade... e até fazer 2009 começar. A gente espera.

Professor Zeluiz

Centro Interescolar de Agropecuária de Itaperuna

http://professorzeluiz.blogspot.com/

quarta-feira, 11 de março de 2009

Ver não é coisa natural

Não digam nunca: Isso é natural!
A fim de que nada passe por ser imutável.
Bertolt Brecht


Outro dia um aluno da 1ª série do Ensino Médio produzira um texto que me surpreendeu: escreveu que houve um tempo em que bastava os pais olharem para o filho a fim de que esse entendesse a crítica a seu comportamento e mudasse de atitude. De fato, lembro-me da história do Ademir - um jovem com quem eu trocava revistas de super-heróis em Retiro do Muriaé da década de 1970. Naquele tempo de futebol amador, a gente acompanhava os times na carroceria do caminhão do seu Paulo. O “Dênis” estava lá, mas antes do carro sair, seu pai - um senhor às antigas - chamou o moleque no meio dos colegas: _ Dêni, desce! Cê não encheu a taia e num barreu o terrero, desce.

Não teve jeito. Ele desceu. Não havia espaço e nem tempo para questionar a decisão do pai. Era uma ordem que emanava de uma autoridade, simplesmente. Os companheiros, mãos à boca, contínhamos o riso e o escárnio até que o senhor Saturnino se afastasse levando o rapazinho sorumbático.

O psicologismo, na esteira da (re?)democratização do país, bateu forte contra o que chamou de autoritarismo patriarcal. Entretanto, naquele tempo, não havia pai ou mãe que não soubesse exatamente o que fazer com os filhos, como educá-los, impor-lhes LIMITE.

Hoje encontro dezenas de responsáveis que não conseguem educar crianças e adolescentes. Alguns acham isso muito natural: _ É a evolução, dizem.

Particularmente, penso que aí há mais de banalização da autoridade e de regurgitação da desobediência. Parece que os filhos estão ficando cegos e surdos. A meninada, primeiro, ficou cega: o olhar dos pais já não diz nada, porque essa atitude demanda tempo e sensibilidade de lado a lado e parece que agora já ninguém olha nos olhos de ninguém. Depois as crianças ficaram surdas: Os pais falam - alguns decibéis acima -, mas acho que entra num ouvido e sai pelo outro. Isto quando não estão entupidos com os fones de seus MP3, MP4, celulares etc. Está havendo uma revolução na relação entre pais e filhos. Os resultados podem ser constatados, porém a análise do fenômeno não é nem um pouquinho simples. De toda sorte, não deve ser à toa que venho ouvindo, cada vez mais, pessoas se lembrarem de como foram educadas pelo olhar dos pais. Aliás, o professor Rubem Alves sempre disse que “O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. A primeira tarefa da Educação é ensinar a ver...”.

O ano letivo finalmente começou. Com ele os pais entregam uma cota-parte da tarefa de educar à Escola. Ainda que muitos responsáveis coloquem seus filhos na escola para brincarem; para serem alfabetizados; para aprenderem uma profissão; para fazerem o vestibular; para não serem importunados pelo Conselho Tutelar; para ganharem bolsa família; para ocuparem a criança; para se livrarem dela... a tradição diz que a escola EDUCA.

Não me canso de acreditar que a Escola é melhor do que a Sociedade. Senão, que possibilidades teríamos de melhorar as relações humanas? Muitos críticos da Escola terão uma vasta lista de seus defeitos e mazelas, mas sempre se esquecem de quantas crianças a escola vem salvando de suas famílias. Faz-se isso apesar dos (des)governos.

Aliás, sabemos que a “política” costuma impor uma pedagogia ziguezagueante à escola. Cada governo acha que pode jogar fora todo um trabalho educacional por mera opção “ideológica”. A educação que temos hoje no Brasil, com toda a crítica que se possa fazer, não é projeto de um ou outro governo. Ela vem sendo construída pelos profissionais, educadores que têm dado suas vidas pela crença de que a escola pode educar.

Em geral, os administradores que assumem um mandato, em qualquer esfera, não têm um projeto educacional partidário nem pessoal; têm, às vezes, intenções. É por isso que devem ter a delicadeza de ouvir e ver as pessoas e a realidade. Fico muito triste, e às vezes raivoso, de ver políticos fazendo ingerências na Educação simplesmente por vingança, por perseguição, por clientelismo, por fisiologismo... Em quase 100% das vezes não discutem competência; se vergam à contingência dos favores, das promessas e das dívidas eleitorais.

Também sou a favor de mudanças. Elas seriam necessárias se não fossem inexoráveis. Mas toda mudança deve ser uma construção, principalmente em se tratando da educação pública. Em agosto do ano passado escrevi aqui, em relação ao Ideb de Itaperuna, que “A rede municipal de ensino apresentou números razoáveis que podem ser melhorados. Nas séries iniciais avançamos de 4,6 para 5,0; entretanto, regredimos de 4,5 para 4,3 nas finais. Nosso entendimento é que o maior esforço - leia-se investimento - deve ainda estar concentrado na educação infantil, como já vem sendo feito.”. Portanto, isso é um legado e não despojos.

A nova SEMED precisa levar em conta muitas coisas antes de se arriscar na exacerbada politização dos cargos nas escolas. O governo do Estado do Rio tem investido fortemente na formação dos gestores da sua rede de ensino. Mesmo que esses sejam eleitos pela comunidade escolar, o Estado os trata antes como servidores. Não estou sugerindo eleições nas escolas municipais; apregoo que seu corpo docente seja tratado como servidores públicos, que têm direitos e de quem podemos cobrar deveres e resultados.

Itaperuna vive a síndrome da Educação Colonial: achamo-nos muito importantes, porque temos várias universidades, com múltiplos cursos para todos os gostos e desgostos. Contudo, é preciso que nos lembremos de que mais importante que isso é a Educação Básica. Se esta não for de qualidade, a Educação Superior capenga. Caso não cuidemos de educar nossas crianças e jovens, tempos virão - e eles já estão aí - em que o MEC, que não é cego e nem surdo, se verá na contingência de proibir vestibulares e fechar cursos. Pois se a escola faz o aluno, o aluno faz a escola. Só não vê quem é cego.


Publicado na REVISTA ESTILO OFF em março de 2009.

Professor Zeluiz

Centro Interescolar de Agropecuária de Itaperuna

azeluiz@oi.com.br