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segunda-feira, 30 de junho de 2008

Fazer economia é submeter consumo à emergência da poupança

Somos ainda uma economia muito vulnerável. Temos ainda problemas sérios. Por isso, não podemos brincar nessa parte, para que a gente não tenha um retrocesso.

Luis Inácio Lula da Silva


Quando eu era comunista tinha uma relação com a Economia completamente paradoxal: abominava os pilares do capitalismo, entretanto era um consumidor quase compulsivo. Poderia em minha defesa dizer que fora arrebanhado pelo marketing do capital, mas que minha inteligência continuava a apontar o socialismo - tudo em comum - como uma convergência da sociedade humana. Por isso virara um romântico idealista naqueles idos de 1980. Acho que essa minha trajetória é a mesma de muitos contemporâneos.

Parei de achar que poderia mudar o mundo sem primeiro mudar a mim mesmo. Deixei de pensar que todos os erros e defeitos estão nas instituições e não nas pessoas. Abandonei a idéia de que nossas condições sociais são frutos de um determinismo absoluto e hereditário. Uma das mais importantes razões para essa mudança é fruto de experiências pessoais e observação. Quando o governo federal lançou com pompas e circunstâncias o crédito consignado para os aposentados e pensionistas do INSS, não acendi nenhum foguete; ao contrário, preocupei-me assaz. Mais ainda, ao ver artistas famosos da televisão caindo em cima dos nossos idosos para convencê-los de que esses empréstimos eram a última moda “em Paris”. Desesperei-me! Estavam pegando na teia do consumismo até os mais experientes ainda que “obrigados” por seus filhos, netos ou agregados que, não sabendo administrar suas finanças, viram no empréstimo consignado a terceiros uma tábua de sua salvação.

A idéia me é antiga. Mas agora retorna com força de convicção: é preciso educar nossas crianças, jovens e adultos para o consumo. E não é possível esperarmos do Rádio, da TV, dos Jornais e das Revistas que façam esse favor social. A Escola precisa assumir mais esta tarefa. Educação fiscal e para o consumo devem estar nos currículos escolares já.

O país vem alcançando avanços em termos econômicos, mas o fantasma da inflação - filho do consumo exacerbado - paira a poucos metros de nossas cabeças. E o Presidente da República fala com preocupação, pois ninguém quer ser o pai de um processo inflacionário, o retrocesso é péssimo nas biografias. É claro que nossa sociedade tem notícias do tempo em que vivíamos sob forte desvalorização do dinheiro. Tem notícias também dos tempos de escassez de energia elétrica e de combustíveis automotivos. Todos ficaram sabendo disso, mas poucos aprenderam com isso. Não fossem verdades esses lapsos de memória pessoal e coletiva nossas contas de energia elétrica não teriam voltado a apresentar um consumo igual ou superior ao dos tempos de pré-apagão. Não basta ter recordações disso, é preciso ter aprendido com isso.

Fico observando os trabalhadores que estão passando por “aperto” financeiro. Têm um traço comum, vulgar mesmo: todos acreditam que precisam de aumento de renda. Coisas do tipo empréstimo financeiro pessoal (CDC, LIS, Cartão de Crédito, Agiotas etc.); as menos insensatas correm atrás de um trabalho extra (bico, biscate, hora-extra, plantão, GLP, AJT etc.). Entretanto, poucos, poucos mesmo acordam na segunda-feira dispostos a poupar.

Ora, na grande maioria dos casos a solução não está no aumento da renda - panacéia para o diagnóstico apressado da penúria financeira; mas na poupança - medicamento tópico para um prognóstico de sucesso. Conheço pessoas que, por mais que seu salário seja o que acham que deveria ser, jamais alcançarão estabilidade financeira.

O jornalista norte-americano Orison Marden, morto em 1924, já dizia que “a economia consiste em saber gastar e a poupança em saber guardar". Fosse ainda vivo, certamente diria que “saber gastar” e “poupança” são absolutamente a mesma coisa. Por isso insisto em que fazer economia é submeter os objetivos do consumo à emergência da poupança.

Tive um chefe que sempre dizia ser o problema de seus subordinados não o ganhar pouco, mas o gastar muito. Eu o corrijo e desfaço sua antítese: gastar mal. E onde quer que ele esteja agora, se pudesse ler este artigo se sentiria um professor que não me fez apenas tomar conhecimento das coisas, mas me fez aprendê-las.

Professor Zeluiz

Centro Interescolar de Agropecuária de Itaperuna

Água vai, choro vão



Sexta-feira, 2 de novembro de 2007

O Poema "Água vai, choro vão" foi recitado por Loran, que representou a equipe Tsunami - vitoriosa - na XI Agrogincana do CIAPI.




Corre a água nas veias da Terra
Como seiva sangüínea, povoa de vida
Valões e rios e oceanos.
No indefectível devir, some fluida no ar
Passeia no céu surfando nuvens
Entroviscam-se
Gotas
P
L
U
V
I
A
I
S
Nos veios abertos navegam gente e bicho e planta e pedra
A que a água pede passagem, carrega e dá resgate.
Mas, súbito...
Cessa o curso:
paralisa,
aprisiona,
quimioterapiza
artificializa
mete etiqueta
e vende a vida em metros cúbicos,
pipas, garrafas e garrafões no templo da Terra.
Olho-d'água sujeitado ao lucro
Contingenciado
Medido
Escasseado pra valer.
Dá água nos olhos lembrar a bica no quintal
Saudades
L
A
C
R
I
M
A
I
S

Enfim, férias! Mas é só um recesso, em 2008 a gente volta.

A todos que andaram por aqui visitando este blog, meu profundo agradecimento. Espero que as festas deste final de ano tenham mais do que comidas, bebidas e presentes ensacolados. Sejam um momento de reflexão também. Quando somos ainda jovens somente contamos o tempo pra frente: o que há de vir e como será. À medida que amadurecemos passamos a olhar o tempo que foi: o quanto e o como. Mas a VIDA é esse fio da meada que se desenrola na cronologia dos dias até quando existirmos. Portanto, cada ação nossa, cada escolha, cada passo é decisivo para sermos o que somos.
Desejo não basta - eu sei! É preciso querer e realizar. De qualquer forma desejo que você vá se encontrando consigo e com os outros; que aprenda das coisas todas - do por fora e do por dentro -; que esteja sempre disposto a crescer com as trocas que fará
pela vida afora; que não fique sempre com cara de pastel diante da realidade, mas que absorva a novidade com a sabedoria de que já vai amadurecendo aos poucos, devagarinho, pois não se deve ter pressa alguma pra envelhecer; que, sobretudo, ame a si e aos outros e às coisas, porque tudo é sagrado se pertence a mais de uma pessoa; finalmente, e por isso, não se economize: participe, compartilhe, não guarde muitos segredos - eles são danados pra nos roubar o tempo.
Um grande abraço terno e apertado dum coração saudoso!

Itaperuna, sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

A INCLUSÃO DIGITAL NO ERJ: O ESTADO DA "ARTE"

A situação é confusa mesmo, como de resto andam confusas as atitudes do governo do Estado. Pra mim, a SEE está "jogando um jogo" pra platéia. Ora cobre a cabeça - na hora que tem gente prestando mais atenção a essa parte - e descobre os pés - com os seus calcanhares de Aquiles - ora cobre os pés e descobre a cabeça. É um jogo meio sem graça tanto de jogar quanto de assistir; pior ainda é quando somos a BOLA de reserva e a da "vez".
O fim da função de OT já foi publicado no DO? Alguém tem essa informação? Caso contrário, por que estamos "correndo" pra voltar à sala de aula?! Nós também estamos jogando esse jogo?!
Lembram que tivemos de assinar um "protocolo de intenções" onde nos comprometíamos a não desistir do jogo antes de a partida acabar?! Lembram?!!!! O documento era unilateral, eu sei; mas a recíproca não tem que ser verdadeira?! Agora o Estado pode simplesmente nos "desconvocar"?! No meio do JOGO?! Cancelar os pontos a favor da Educação que juntos fizemos?! Não devíamos apelar pro juiz? pro bandeirinha, sei lá?! Alguém nesse país do jogo que seja mais coerente?! Ah! por falar nisso, muitos OT fazem um curso de pós-graduação - que só existe em razão desse importante jogo que jogamos contra a time de exclusão - e é um convênio com a federação. O governo do Estado do Rio de Janeiro pode simplesmente pegar a bola, pô-la debaixo do braço e dizer que o jogo está terminado?!
Peraí!!!!!!!!!! Será que não há nenhuma outra saída nesse jogo de muitas perguntas e pouca ou nenhuma resposta? Quem tem um atalho aí, por favor? Nós não podemos simplesmente morrer nesse RPG. Ai!, como ziguezagueia essa política do "ensino"! De quatro em quatro anos se quer mudar as regras do jogo, interromper a partida no meio, distribuir beijinhos pra platéia - que, eta-ferro, é alienadinha - e ainda por cima, mandar os jogadores jogarem em outra freguesia.
Não costumo acompanhar esses motes gritados pelas torcidas, dizer que o país é um país de merda, essas coisas feias. Mas agora sou obrigado a concordar: _Governo de mentira! Educação vil! Manda OT pra sala e finge que não viu. Ou então: _Au! Au! Au! Quem fechou os LIEDs foi o seu Cabral.
Valha-nos Deus! Estamos num jogo perigoso toda a vida. Quantas vidas ainda temos pra gastar nesse jogo?! E, o adversário está jogando sujo. Está nos provocando a fim de que desanimemos e acabemos por abrir mão das estratégias que acreditamos serem as melhores para a peleja.
Parece que a partida foi interrompida... Nenhuma Tv vai noticiar?! Elas adoram um mundo cão. Vamos! Luz, câmera, ação!


Itaperuna, domingo, 18 de março de 2007

Direitos Imprescritíveis do Leitor (Daniel Pennac)

I - O direito de não ler.
II - O direito de pular páginas.
III - O direito de não terminar um livro.
IV - O direito de reler.
V - O direito de ler qualquer coisa.
VI - O direito ao bovarismo (doença textualmente transmissível).
VII - O direito de ler em qualquer lugar.
VIII - O direito de ler uma frase aqui outra ali.
IX - O direito de ler em voz alta.
X - O direito de calar

Itaperuna, sábado, 7 de junho de 2008

Violência: descaminho social

A chamada civilização -"preeminência" do mundo ocidental - sempre exercitou seu poder através da violência seja física, moral e/ou psicológica. Contra a criança a violência mostra sua face mais cruel: desequilibra as relações humanas e fomenta sua perpetuação junto à espécie. Mas, temos caminhado em busca de soluções que vão do institucional às tentativas de reeducar os adultos para a convivência em sociedade.
O exercício do poder pela violência faz vítimas principalmente entre as crianças. São elas a porção mais frágil e portanto mais suscetível ao sofrimento. Talvez a violência tenha se tornado um modus vivendi da sociedade, isto é, faça parte da cultura de muitos povos. De outro modo não se pode compreender como ela tem permeado a história das sociedades desde a violência física, imposta aos "sacos de pancadas", na Idade Média, até aos Modernos meios de violência, tais como: a exposição a certos programas de televisão, a reclusão, a precocidade forçada, o trabalho infantil.
Não se pode ignorar a questão genética em sua composição. Entretanto, são muito mais importantes, no estudo da violência, as causas sociais. Sejam quais forem as razões sociais da violência contra a criança, no centro da questão irá estar a causa motivadora primeira: a falência de um sistema social em que o ter, há muito, suplantou o ser quebrando o equilíbrio ecológico da pessoa humana.
O stress do mundo moderno pode toldar de tal sorte a mente ao ponto de levar as pessoas a comportamentos violentos como forma de extravasar a ansiedade ou compensar perdas. Mas, para além disso, parece-nos que nossa sociedade, esquecida de sua origem de cooperação, optou ou foi levada a optar pela competição. Desse modo, até mesmo a criança pode representar, ainda que circunstancialmente, um competidor a ser derrotado, ou um estorvo a ser removido do caminho. Numa perspectiva histórica, o que mais chama a atenção é o crescimento da desfaçatez com que a violência é praticada, chegando mesmo a sua completa banalização.
De qualquer forma, no que diz respeito às instituições, o Estatuto do Menor e do Adolescente vem representar um passo importante no estabelecimento do direito e no combate à violência estrutural em nossa sociedade. Ainda que nos achemos a caminho de uma sociedade multiculturalista em que as crianças venham a ser respeitadas enquanto pessoas, o verbo ainda é "tolerar". A tolerância é a complacência de alguém que se julga superior, mais importante que outro, estando pois muito longe do ideal de respeito, de direito, de justiça com que as pessoas em sociedade se devem tratar. Mas o caminho é mesmo este: educar para a não-violência através do resgate permanente da cidadania, e combater a violência através da lei.

Itaperuna, sexta-feira, 6 de maio de 2005.

Pondo brasa na sardinha de mais gente

O texto "Mudar a mudança: da escola que fazemos à escola necessária" pode ser lido na seção Sua Voz do sítio www.educacaopublica.rj.gov.br

A tecnologia da informação (é) e a oportunidade de inclusão

O atual estágio do desenvolvimento da tecnologia é realmente surpreendente. No que diz respeito então às tecnologias da informação, tendo como carro chefe a telemática, é um novo conceito de "Túnel do Tempo" que estamos criando, pois mudaram completamente a utopia do "tele-transporte" - aquela velha idéia de podermos estar presentes em um outro tempo e espaço - que embalou tantas civilizações. Agora, não nos transportamos para um lugar distante, mas trazemos o lugar distante até nós. Essa evolução só pode ser comparada à diáspora do Homo Sapiens, no dizer de Morin1, da raça humana sobre a Terra, nos primórdios da conquista do planeta.
Dito assim, o avanço tecnológico parece ser um empreendimento da humanidade para a humanidade. Entretanto, sabemos que, se evoluímos tanto do ponto de vista das conquistas científicas, o mesmo não ocorre no plano da consciência social. Vê-se mesmo o contrário: quanto mais se avança na produção de bens e serviços de alta tecnologia, mais se amplia também o abismo entre as classes sociais na maioria dos países e no mundo inteiro. Infelizmente, na utopia do professor José M. Moran, ao dizer que "Na sociedade da informação todos estamos reaprendendo a conhecer, a comunicar-nos, a ensinar e a aprender; a integrar o humano e o tecnológico; a integrar o individual, o grupal e o social." o todos é apenas uma generalização ideologizada. De qualquer forma, é preciso não perder a convicção de que, se o espaço da educação não for o da superação dessa diferenças, isso não se dará em outro lugar, pois "A escola é um espaço possível de luta, de denúncia... e de procura de soluções, ainda que precárias e parciais."2
Por outra, é mister reconhecermos que o advento das novas tecnologias, vencidas as amarras econômicas, pode se transformar num equalizador das diferenças, num oportunizador de condições mais justas na busca da superação das distâncias sociais. Basta lembrar que, há pouquíssimo tempo atrás, e perdura até hoje em muitos lugares, somente os indivíduos que viviam nos grandes centros desenvolvidos, ou aqueles que dispunham de recursos para se deslocarem até os mesmos, gozavam do privilégio de poder estudar e se aperfeiçoar profissionalmente. A esse respeito, agora, muita coisa mudou.
Não há dúvida de que a Educação à Distância é um modelo educacional promissor; sobretudo, quando se trata de estudos complementares ou suplementares avançados. Nesse campo, já se provou a sua eficácia, eficiência e efetividade. Mas isso não tira dela, ainda, o caráter meio experimental. Afinal, é preciso que transcorram algumas gerações forjadas nessa metodologia para que se possa dizer, com segurança, que tenha se tornado um modelo seguro.
Uma nova ordem educacional se instala a partir das modernas tecnologias da informação. O próprio fundamento do que chamamos biblioteca se esgarça para dar espaço a uma outra plataforma de pesquisa e armazenamento do saber científico: a webloteca.
Por hora - não se contesta -, o uso da Internet é mais do que solução para o avanço e democratização do conhecimento; ele é inexorável. Daqui para frente, somente através de conexão com a rede mundial se poderá acompanhar o ritmo das exigências e das demandas estabelecidas pela dinâmica da sociedade global.
Destarte, é preciso que lancemos mãos à obra a fim de tornar o ensino à distância uma realidade mais palpável para todos os brasileiros. Para isso é urgente que capacitemos, cada vez mais e melhor, professores de todos os níveis. E, aqui, capacitar é também dar condições para que os mesmos rompam o processo de exclusão digital de que são vítimas em razão da penúria econômica a que lhes têm legado os governos.

Itaperuna, quinta-feira, 14 de abril de 2005.



1 - MORIN, Edgar. Educar na era planetária: o pensamento complexo como método de aprendizagem no erro e na incerteza humana. Trad. Sandra Trabuscco Valenzuela. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNIESCO, 2003.
2 - ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e Martins, Maria Helena Pires - Filosofando, Introdução à Filosofia. 2ª ed. Moderna. São Paulo, 1998.

Democracia direta, já!

A democracia é o pior dos regimes políticos, excetuando todos os outros.

Winston Churchill

É intrigante - mas não surpreendente - que as elites, tanto a intelectual quanto a política de nosso país, sempre tenham trabalhado a exaltação da democracia como o melhor dos regimes políticos; entretanto, seus delicados e exigentes estômagos nunca suportaram ouvir falar de sua forma direta.

Na verdade, só conhecemos dois regimes: a ditadura e a democracia. O anarquismo e o comunismo são só uma utopia ensaiada e enterrada alhures. De qualquer forma, por absoluta falta de uma fundamentação teórica que pudesse tangenciar o intelecto do populacho, resolveu-se explicar assim: a ditadura é a ausência de democracia e a democracia é... bem!... a democracia vem do grego demo = povo e cracia = governo. Assim, explica-se que é “o governo do povo”. Aqui há, no mínimo, uma simplificação que, se de caso pensado, é criminosa. Vejamos: na Grécia antiga, berço da “democracia”, as mulheres, os estrangeiros, as crianças, os escravos não participavam das decisões políticas - já começa aí a sacanagem. Na verdade, só uma elite masculina decidia, para o bem ou para o mal, as questões do Estado. Você pode estar já pensando “mas a democracia avançou muito; há o voto das mulheres, dos analfabetos e, além do mais, nem temos mais escravos”. Sim! Isto tudo é verdade. Como é verdade também que ao elegermos os parlamentos e os gestores públicos deixamos de exercer a democracia direta e passamos uma procuração para que outros decidam por nós e em nosso nome. Eu já estou ficando de saco cheio disso.

Sempre ouvi a explicação de que a democracia moderna não poderia ser direta pela impossibilidade espacial de reunir todo o povo para uma decisão - que não era o caso na Grécia, com uma população de pequena escala. Mas, de vez em quando - duas ocasiões até agora, desde a Constituição de 1988 que recriou isto - o povo é chamado para decidir uma questão mais polêmica. Mas, gente! será que ninguém pensou que democracia é como é simplesmente porque não havia tecnologia para ser diferente.

Com o avanço da chamada inclusão digital - agora mesmo o governo estadual está conectando os professores da sua rede à internet - é até um pecado que o voto seja apenas eletrônico e não informatizado. Explico: Mais de 26 milhões de brasileiros fizeram declaração de Imposto de Renda e outros mais de 70 milhões farão Declaração de Isento, a maioria absoluta pela internet. Isso passa perto do número de eleitores do país. Já pensou que quase todos os brasileiros têm pelo menos um celular? Quem vai continuar dizendo que é impossível fazer democracia direta? Só aqueles a quem essa participação on line não interessa. Vou dizer uma coisa pela qual me chamarão fascista, ditador: penso que não precisamos mais de parlamentos em nenhum nível de governo. Se a desculpa é de que não há um lugar para reunir 187 milhões de brasileiros, agora já temos: o ciberespaço. Ah! mais uma coisinha: nenhum projeto ficaria engavetado; nem por pouco nem por muito tempo. Meu Deus! e os custos? Segundo a Transparência Brasil (http://www.transparencia.org.br/index.html), o Congresso brasileiro gastou R$ 11.545,04 por minuto durante todos os dias de 2007 (são R$ 6.068.072.181,00 por ano). Pensemos em Itaperuna: uma economia de mais de 5% da arrecadação do município. É grana pra caramba! O melhor de tudo: não teríamos que nos decepcionar, em menos de um ano de mandato, com o sujeito em quem votamos pra vereador.

Quanto ao Executivo, duas reforminhas seriam implantadas pela Democracia Direta. A primeira delas acabaria com a “reeleição”. Esperem eu molhar o bico! A emenda constitucional n° 16, de 4 de julho de 1997, diz que “O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subseqüente”. É só retirar a parte que diz “para um único período subseqüente”. Claro! se o povo - mesmo na democracia indireta - resolver dar, por exemplo, um 3º mandato para o presidente Lula, isso é democrático! Se for decisão do povo... não me venham dizer desse negócio de uso da máquina e coisa e tal. Peloamordedeus! Se vamos lançar mão desse argumento, então é melhor que se acabe com a reeleição, com a prorrogação do prazo de validade dos concursos, com a gratificação por tempo de serviço etc. Já a segunda, trata do instituto daquilo que os ingleses chamam recall, isto é, chamar de volta. Periodicamente, o povo - não através de pesquisa de opinião, em que se paga pelo resultado que se deseja - pronunciar-se-ia, plebiscitariamente, a favor ou não da permanência do Executivo.

Há quem acredite que eleição é solução de todos os problemas, é a pedra de toque da democracia. Eu prefiro mais democracia e menos eleições. Se não for para evoluir, para mudar e acompanhar o tempo, então Churchill tinha razão: a democracia também é uma merda. Aí vou querer experimentar outros regimes, sofrê-los, prová-los. Que tal um anarquismo à moda da casa? Aí prestaríamos uma elegante homenagem à Zélia Gattai, que se foi neste 17 de maio, e seríamos todos “Anarquistas, graças a Deus”.

Vou te mostrar com quantas cordas se faz um berimbau


Não reproduzirei aqui as declarações do professor doutor senhor Antônio Dantas, coordenador do curso de medicina da Universidade Federal da Bahia, em que “explica” o baixo desempenho dos seus alunos no Enade. Outros coordenadores, e mesmo reitores, lançaram mão de argumentos igualmente inconsistentes, mas pelo menos mais pacíficos.

A Faculdade de Medicina, fundada quando da passagem da corte portuguesa pela Bahia, comemorou, agora em fevereiro, seu Bicentenário. Ou a ciência médica não ajuda em nada a melhoria da saúde de uma população, ou os baianos - que provavelmente constituem a maioria de seus alunos - formados pela FAMEB nunca exerceram sua profissão. Paradoxo por paradoxo, o estado da Bahia estaria deserto hoje em dia, por inegável que é a responsabilidade de uma política eficiente de saúde na superação, ano após ano, da taxa de expectativa de vida; nesse caso, ainda que a Bahia esteja no 21º lugar no ranking da expectativa nacional de vida, foi um dos estados que mais avançaram no acumulado dos últimos 26 anos - segundo o IBGE - passando de 50,71 para 71,72 anos; muito perto da média nacional.

É interessante como os administradores, principalmente os públicos, quando pegos em sua incúria não pestanejam em jogar na defensiva. Nunca assumem suas culpas; elas são sempre de outrem. Neste caso, é dos estudantes de medicina do último ano de graduação, segundo o senhor Dantas. Talvez, por ele, nem se fizesse necessária a avaliação do Enade. Pelo que disse, era sabedor de que o curso, sob sua coordenação, era insuficiente para formar médicos; ou, como declarou, os alunos eram incompetentes para estudar medicina na sua faculdade. Isto, entretanto não me parece uma coisa só. Estamos falando de acadêmicos do último período, que passaram anos estudando, sendo avaliados e aprovados... Este assunto é de extremo interesse público, pois outras faculdades também foram “reprovadas” na avaliação do MEC. Pelo andar da carruagem, faz tempo que os brasileiros estão nas mãos de profissionais que cursam faculdades julgadas insuficientes por seu órgão regulador.

Não sei em qual dos grupos o meu caro leitor postula: no dos que acreditam que a escola faz o aluno, ou entre os crentes de que é o aluno quem faz a escola. Em ambos os casos, acho que está certo. Mas podemos resumir assim: uma escola ruim não pode dar a um bom aluno tudo de que ele necessita para ser um bom profissional; uma boa escola pode transformar um aluno não muito brilhante em um profissional competente. De todo modo, fico com um outro axioma: “Quem tem fama, deita na cama”.

Mas, para além dessa questão, o fulcro de nossa conversa é o preconceito exarado pelo coordenador que citei já mais de uma vez. Fico me lembrando de tantos baianos ilustres, em todas as áreas do conhecimento e em todos os tempos, que povoam o altar dos famosos do Brasil. Num exercício de pesquisa, recolhi a fala de alguns que serve de respostas baianas ao julgamento escarninho do coordenador:

Rui Barbosa em discurso na Faculdade de Direito de São Paulo, 1920: Não imiteis os que, em se lhes oferecendo o mais leve pretexto, a si mesmos põem suspeições rebuscadas, para esquivar responsabilidades, que seria do seu dever arrostar sem quebra de ânimo ou de confiança no prestígio dos seus cargos.

[...] para dizer ao povo da Bahia que em nossas relações sou o único devedor. Do saber do povo me alimentei e se alguma coisa construí, ao povo o devo. Minha obra não é mais do que pobre recriação de sua grandeza. Jorge Amado em discurso de posse na ABL.

João Ubaldo em “Brasil, um país dos mesmos”: É meio chato o sujeito nascido em meados do século passado descobrir, numa série aparentemente infinita de pequenos episódios deprimentes, que passou a vida sendo enrolado e acreditando em bobagens.

Castro Alves, em “Improviso”, gritaria à mocidade acadêmica:



Moços! A inépcia nos chamou de estúpidos!

Moços! O crime nos cobriu de sangue!

Vós os luzeiros do país, erguei-vos!

Perante a infâmia ninguém fica exangue

Protesto santo se levanta agora,

De mim, de vós, da multidão, do povo;

Somos da classe da justiça e brio,

Não há mais classe ante esse crime novo!

Sim! mesmo em face, da nação, da pátria,

Nós nos erguemos com soberba fé!

A lei sustenta o popular direito,

Nós sustentamos o direito em pé!

Discurso de Edith Mendes Gama e Abreu pronunciado no 2º Congresso Feminista, em 1931: É mister do feminismo, senhores, elaborar essa reforma de costumes e de leis derrubando os ilogismos do preconceito, guiando com a justiça e o amor a partilha dos direitos entre a criaturas, para que as gerações do porvir não conheçam esses contrastes violentíssimos de miséria e opulência, de domínio e sujeição, de gozo e sofrimento, de luz e treva do espírito.

Adonias Filho em seu discurso de posse na ABL: E, definindo-me - quando os reencontro à sombra da definição -, já agora como escritor do meu tempo, não posso evitar o que exigem no fundo mesmo da sua obra. Exigem a luta contra a censura ideológica, contra o comando do partido único nas artes e nas ciências, contra o bloqueio cultural - que tentei estudar em um dos meus livros - ainda hoje oprimindo povos e humilhando o homem.

Zélia Gattai - baiana por adoção, diria: _Senti-me invadida por um sentimento de revolta, veio-me à cabeça uma frase anarquista... Não vacilei, levantei-me da mesa, encostei-me à porta e larguei o verbo, com a mesma entonação com que havia aprendido, com o mesmo dedo em riste que ele empregava:

_“Quando lá fórza e la ragion corístrasta, vince la fórza. La ragion non basta!” (Anarquistas, graças a Deus).

É uma pena que Machado de Assis não tenha nascido baiano, se o tivesse poderia responder ao coordenador com um aviso ao leitor: A minha idéia, depois de tantas cabriolas, constituíra-se idéia fixa. Deus te livre, leitor, de uma idéia fixa; antes um argueiro, antes uma trave no olho.

À exceção do de João Ubaldo, todos esses discursos foram emprestados de defuntos. Fazem idéia de como essa trupe está lá do outro lado proferindo impropérios? Pois como disse Brás Cubas: O olhar da opinião, esse olhar agudo e judicial, perde a virtude, logo que pisamos o território da morte; não digo que ele se não estenda para cá, e nos não examine e julgue; mas a nós é que não se nos dá do exame nem do julgamento. Senhores vivos, não há nada tão incomensurável como o desdém dos finados. Por isso, valho-me de um discurso de vivo que bem expressaria a sentença desses mortos se ainda tivessem o viço e a infeliz oportunidade de ouvir aquela história de berimbau com mais de uma corda:

Me larga, não enche
Você não entende nada e eu não vou te fazer entender
Me encara de frente:
É que você nunca quis ver, não vai querer, não quer ver
Meu lado, meu jeito
O que eu herdei de minha gente e nunca posso perder
Me larga, não enche
Me deixa viver, me deixa viver, me deixa viver, me deixa viver

Cuidado, ô xente!
Está no meu querer poder fazer você desabar
Do salto, nem tente
Manter as coisas como estão porque não dá, não vai dar
(...)
Eu vou
Clarificar a minha voz
Gritando: nada mais de nós!
Mando meu bando anunciar:
Vou me livrar de você (Caetano Veloso em “Não Enche”)

Estou me segurando por aqui a fim de não viajar até a gostosa Salvador pra dizer uns desaforos in loco.

PARE, LEIA, PENSE!


Há muito administrador público que reduz a questão do controle de trânsito a talões de multa, semáforos, placas e alguma "pintura" de solo. Tudo se passa como se o trânsito se auto gerisse.
Roberto Scaringella

Sou do tempo em que dois luminosos chamavam a nossa atenção por aqui: o frontispício de néon do Colégio Bittencourt e o semáforo em frente à prefeitura - a gente ia até lá só pra ver os carros pararem antes da faixa pintada no chão (achávamos uma coisa mágica aquele código de cores). Infelizmente acabaram com a escola onde fiz meu colegial. O mesmo não posso dizer - infelizmente de novo - do semáforo, que parece não parar de se reproduzir, de fazer filhotes por aí.
Dia desses parei pra contar: são 7; para atravessarmos a cidade. Do terminal rodoviário até a sede dos poderes Legislativo e Executivo, temos que enfrentá-los dessincronizados (em plena era da informática, isso é quase prevaricação) para ir e para vir. No calor de Itaperuna, fazer este percurso a pé é muito menos desgastante e politicamente mais correto - mas este é um outro assunto e... a modernidade exige pressa e fluidez.
Em geral, o técnico em engenharia de tráfego acredita no poder dos semáforos - quando somos crianças até cremos que a cor muda de acordo com a nossa vontade. São a panacéia para se evitar o atropelamento dos pedestres e para se fazer justiça aos automóveis cujos motoristas teimam em sair das transversais para ganhar a avenida principal. Ora, temos visto em nossa cidade que muitos acidentes graves têm acontecido exatamente nos semáforos que, aliás, portanto, não evitam acidentes, apenas e tão somente controlam o fluxo de automóveis. Além disso, há administradores públicos que vêem neles um sinal de modernidade. Tudo senso comum.
O desenho da Avenida Cardoso Moreira é de mil novecentos e antigamente. Naquele tempo, Itaperuna era uma “Cidadezinha Qualquer” e a vida passava devagar - como diria Drummond. As ruelas, ruas e avenidas eram obedientes ao corte das quadras e quarteirões - isso era uma determinação social que o poder público encarava como establishment. Mas, agora, é preciso repensar essa relação trânsito x transeunte com a maturidade de quem não acredita em soluções mágicas e, muitas vezes, onerosas.
Não sou especialista em nada - prefiro saber de tudo um pouco - muito menos em tráfego. Entretanto gosto de pensar a cidade, os cidadãos, a arquitetura das relações sociais, o ir e o vir das pessoas, dos ciclistas, das carroças e dos automóveis também; sobretudo na minha cidade, porque gosto dela. Destarte, quando não entendo alguma coisa costumo discuti-la para aprender dos outros e assim construir conhecimento - pelo amor de Deus, se colocarem isso em algum programa de governo, cuidem de praticar primeiro.
Tá bom! vamos ao ponto. Nosso belo calçadão central é entrecortado demais. Pra quem transita por ele: a trabalho, à toa, a passeio, fazendo caminhada, namorando... é um martírio ter que parar de cem em cem metros para atravessar uma rua. A rigor, então, nem é mesmo um calçadão (subs. masc.: Calçada ou passeio extenso e excepcionalmente largo, de belo efeito urbanístico, segundo o Aurélio), isto é, um cinturão verde, aprazível e seguro no centro da cidade. Parece apenas que demarcaram as conveniências de um loteamento comercial (um box pra cada feudo, ou melhor, um feudo para cada box).
Afinal, nossa cidade não é apenas dos pedestres, mas não é, tampouco, apenas de quem transita de automóvel. Há que se estabelecer uma democracia que é algo distante de soluções semafóricas. A menos que se pretenda distribuir renda com os malabaristas dos sinais de trânsito; aí, quanto mais, melhor. É preciso fechar a maioria das transversais que recortam a Cardoso Moreira. Podemos começar pela rua Licy Pereira de Castro (ou Assis Ribeiro) e/ou pela rua Maj. Phorfírio Henriques: será um grande favor, pois ambas estão comprometidas com a máfia dos sinais desnecessários. Quem sabe, um dia, voltemos a ter apenas o semáforo em frente à prefeitura para receber quem vem do Bairro Niterói e não quer “perder tempo” pela “avenida beira-rio” ou então que os motoristas - quem não podem ser os vilões desta história - esperem os pedestres atravessarem na faixa pintada no chão mesmo que não haja sinal luminoso. Nossa Senhora! Como há soluções mais baratas do que o custo financeiro (da ordem de R$ 10.000,00 cada um, afora a despesa com energia elétrica, manutenção etc.) e social de um semáforo.
Caso contrário, os distritos que se preparem: ganharão semáforos em breve. Haverá neles pessoas que aplaudirão; mas, sinceramente, não vejo nada de moderno num semáforo, acho burrice tecnológica... pra deixar barato.

Professor Zeluiz
Centro Interescolar de Agropecuária de Itaperuna
azeluiz@oi.com.br

Navegar é precioso, mas não é preciso

Achar que tudo o que ouvimos é verdadeiro é viver ingenuamente, com sérias conseqüências para a nossa vida profissional.
Kanitz

Outro dia participei de uma profícua discussão sobre uma das grandes preocupações de pais e educadores desses tempos modernos: os jovens e a internet. Na roda, houve quem defendesse que a liberdade de navegar pelo ciberespaço é um bem intangível e qualquer tentativa de vigiar isso seria “um atentado à democracia e significava uma censura”.
A educação das crianças e jovens não deveria ser um assunto restrito as suas famílias; cada uma educa seus próprios filhos como quiser e pronto. Até porque, em nossa sociedade, há instituições como a escola, a igreja etc pelas quais todos passamos e que representam uma, vamos dizer, síntese do pensamento acerca de posturas e atitudes que toda pessoa deve ter a fim de manter nosso contrato social baseado na dicotomia: direitos e deveres. Por isso, a educação que cada brasileiro recebe - no recesso de seu lar - interessa à nação toda. É primeiramente em cada família que se educa ou não para a cidadania - autonomia social, solidariedade, respeito ao outro e às leis.
A questão é que nossa geração - estou falando de gente com 40 ou 50 anos - tem horror à censura. Mais aversão à palavra que ao exercício da repreensão. Na percepção dessa geração, CENSURA não é apenas um signo lingüístico para o exame crítico de uma obra ou de um comportamento; mas, uma repressão ou castigo. Assim, em nome da LIBERDADE de expressão, difundiu-se verdadeira ojeriza à palavra “censura”. Os educadores, principalmente, cunharam uma nova expressão “LIMITE” para ficarem politicamente corretos. E, até onde sei, majoritariamente, concordam que é preciso estabelecer limites. Não acredito que alguma criança irá ficar psicologicamente debilitada se for impedida de acessar aquele sítio da internet recheado de imagens pornográficas, ou aquele de relacionamentos nem sempre tão amistosos. Creio no contrário.
O mestre em Administração, Stephen Kanitz, tem usado a expressão “vigilância epistêmica” – preocupação que todos nós devíamos ter com relação a tudo o que lemos, ouvimos e aprendemos de outros seres humanos, para não sermos enganados. Significa não acreditar em tudo o que é escrito e é dito por aí, inclusive em salas de aula. - para alertar a todos sobre os perigos que rondam os navegadores desse mar de informação, contra-informação e desinformação que é a internet.
É claro que você pode estar pensando que educou suficientemente bem os seus filhos, que eles têm bons exemplos dentro de casa, que seguem uma doutrina religiosa e que, portanto, não irão cair em tentação, não sucumbirão... etc. Aproveite que o papa Bento XVI tem feito beatificações em massa - 498 mártires da Guerra Civil Espanhola – e peça também a deles.
Não estou declarando guerra à internet, apenas lembrando que nela habitam o trigo e o joio. Se o seu filho não é tão inocente como se pensa ou se ele é ainda uma criança inocente, em ambos os casos, ele corre perigo. E que vigiar seus passos, censurar alguns sítios e limitar tempo de navegação, agora, fazem parte do seu papel de bom educador.
Professor Zeluiz
Centro Interescolar de Agropecuária de Itaperuna

Administração do "tempus fugit"

Tudo flui e nada permanece; tudo se afasta e nada fica parado.... Você não consegue se banhar duas vezes no mesmo rio, pois outras águas e ainda outras sempre vão fluindo....
Heráclito

Dominar o tempo e o espaço sempre foi o desafio da humanidade. Desde os primórdios, o homem busca entender o tempo em que vive. Foi assim que começamos a sentir a necessidade de marcar o tempo e o espaço para além do que nos permitiam os elementos da natureza - o Sol e a Lua. Dando um salto no tempo, pode-se dizer que a evolução dessa necessidade propiciou a invenção da cartografia e do relógio.
Contemporaneamente, os maiores desafios da sociedade capitalista talvez sejam o armazenamento e a superação da velocidade. Quem não tem dificuldades com espaço para guardar suas coisas? quem não acha que tudo está demorando, quando se está esperando? O tempo e o espaço - que parecem cada vez mais escassos - há muito viraram bens. Nessa lógica, tudo irá ficar doente para sempre porque o tempo, “remédio para todos os males”, anda fugidio.
A Escola, como qualquer instituição humana, não fez outra coisa senão “correr” atrás do tempo. É só termos um olhar diacrônico para ver o “enxugamento” do tempo de formação, por exemplo. Quem tem mais de 40 anos há de se lembrar de aulas aos sábados, de 2ª época. Também do Projeto Minerva e outros, que buscavam fazer com que adultos acertassem o passo de sua formação escolar. Hoje, quantos cursos “ligeiros” são oferecidos a quem “não tem tempo”? A EAD - Educação a Distância - parece ser a catalisação de toda essa “corrida contra” o tempo e o espaço.
No que diz respeito às organizações empresariais, as teorias da Administração Científica se preocuparam basicamente com a produção em menos tempo e em menos espaço possíveis. Em Tempos Modernos, Chaplin - magistralmente - faz a crítica social da corrida pela superação do tempo e do espaço na busca desenfreada pelo lucro.
Mas uma questão primordial a ser discutida nesses tempos dinâmicos é, certamente, que impactos a velocidade supersônica das mudanças acarretam na vida dos indivíduos? Parece que nada matura, tudo é meio superficial ou, por outra, a sensação de que não há mais história, de que tudo é consumível e descartável e de que não nos banharemos na mesma água do rio nunca mais.
Estamos nesse roldão: não há “tempo livre”. Não somos o tempo e assim não temos como fugir. No Pantanal, todas as manhãs um veado acorda sabendo que deve correr mais do que a onça se quiser se manter vivo. Nessas mesmas manhãs a onça acorda sabendo que deve correr mais do que o veado se não quiser morrer de fome. Por isso, não faz diferença se você é onça ou veado; quando o sol nascer você deve começar a correr. O Tony Tornado já cantava isso nos anos 70: “A gente corre na BR-3/ A gente morre na BR-3”.
Professor Zeluiz
Centro Interescolar de Agropecuária de Itaperuna