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quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

PASSAR DE ANO

Nos idos de 1980 trabalhei com um médico neurologista que dizia ser uma “covardia acumularem no final do ano a comemoração do Natal e” essa urgência de “balanço da vida”. As pessoas se sensibilizam muito, fragilizam-se, ficam dolentes e a alegria exigida pela ocasião escorre dos olhos num riso soluçado e escondido atrás das mãos e dos lenços – emoção! É uma catarse coletiva a curar momentaneamente feridas cardíacas. O sentimento natalino deixa todos de coração mole e tenro como um peru de véspera. O cartão de crédito, abundante e freneticamente usado, promete faturas somente pro ano vindouro que, acredita-se, estará longe de chegar. Aquela visita, devida há muito, agora acontece pra gente esquecida nos asilos ou parentes de outros bairros da cidade. Ficamos solícitos e prestativos. Até a missa ou o culto de Natal parecem-nos extremamente familiares. A reforma da casa é uma contingência inadiável; ainda que seja apenas uma pinturazinha pra limpar as paredes e pretexto pra jogar fora algumas coisas inúteis. A confraternização no trabalho nos coloca abraçados com afetos e desafetos no ritmo do churrasco com pagode e cerveja. Ah, o amigo oculto! essa figura de momento de quem a maioria se esquece mal terminam as festividades. Aliás, certos mimos da ocasião são necessários esquecer mesmo. Já repararam na cara de tacho das pessoas ao abrirem um presente que detestaram, mas têm que achar bacana?! Afinal, no Natal, somos irmãos do Menino Jesus. Nascemos todos numa manjedoura forrada com palhas e rodeada por uma paisagem bucólica. E, claro, anunciados por algum anjo de alta patente. Não fica bem deixar nosso amigo oculto numa saia – camisa, calça ou blusa – justa.

Entretanto há pessoas que dizem detestar Natal. Certamente devem se referir à ocasião ou às festas. Mesmo assim busco os motivos do azedume. Fico lucubrando: é pão-duro demais e não quer trocar presentes; entra em depressão se se permitir o espírito da coisa; acha tudo muito comercial e de encontro a sua ideologia anticonsumista; ou é do contra tudo mesmo. Convém que essas tirem férias e vão para o Pólo Norte onde não há comemorações de Natal, pois até Papai Noel vem pra cá.

De todas as reflexões que o Natal nos permite, na categoria secular, a minha preferida é sobre a paternidade responsável. Falo da biológica – que nem era o caso de José (pai adotivo) – para confrontar com esses pais e mães hodiernos. Maria e José viviam condições bastante adversas. Vamos esquecer momentaneamente a revelação subjetiva de que tinham razoável conhecimento. Venham cá! Tiveram que enfrentar uma viagem insólita a fim de cumprir determinação da administração pública – o censo. Sem dinheiro para a hospedaria foram se abrigar num estábulo. Nascido o menino, sem assistência profissional, obrigaram-se a fugir para uma terra estranha em meio à ameaça do infanticídio promovido por Herodes. Deve ter sido uma barra pra família pobre criar essa criança sem o socorro dos programas sociais da modernidade. São fichinhas perto dessa história os casos de pais desempregados, de gravidez não programada e/ou indesejada, de casamentos desfeitos, de estupros, doenças incuráveis, acefalia e incesto que levam, vira e mexe, alguém a abandonar bebês no lixo, na porta de igrejas e casas ou boiando numa lagoa.

Estou cansado de ver casais na televisão – sobretudo nas telenovelas – que se prometem uma penca de filhos quando não parecem ter juízo para educar um que seja. Não sabem os neófitos que isso acaba criando onda e incentivado pessoas pouco preparadas a terem maior número de filhos? Aí é que entram os exemplos de Maria e de José. O casal de filho único se torna um paradoxo do que sempre defendeu a maioria das religiões e o senso comum: “os filhos são bênçãos de Deus; quanto mais, melhor.” Hoje, pode-se ter apenas um filho sem fazer nazireato. Entretanto, o salário-família – item inegociável da CLT –, provavelmente, constituiu-se numa das mais importantes ajuda oficial à taxa de natalidade no segundo meado do século XX. Agora, desconfio que o bolsa-família possa se tornar o bastião de uma nova onda de irresponsabilidade paterna, se o governo não for mais exigente nas contrapartidas.

É Natal e faz-se impróprio falar de certas coisas. Contudo também é fim de ano. Tempo de, conforme cantava Vanusa, “vasculhar minhas gavetas / jogar fora sentimentos e / ressentimentos tolos / fazer limpeza no armário / retirar traças e teias...” Há uma relação de contigüidade entre o significado do Natal – aquele menino, o filho do Todo-poderoso – deitado numa pobre manjedoura e nossos balanços de fim de período. O resultado é sempre a expectativa, com piedosas autópsias seguidas de fervorosas promessas de mudança de vida: o regime, prorrogado ad aeternum, depois do Ano Novo vai; pôr as contas em dia; parar de fumar; casar com a noiva de há 7 anos; concluir a graduação; fazer uma poupança etc. O diabo – eta palavrinha inadequada aqui – é que Esperança seja apenas um conceito e, então chegam o dia de Reis, o carná e os carnês... De qualquer jeito, a gente acaba construindo um fim, afinal, feliz; mesmo que seja pra não perder a rima. Renove-se então a matrícula para 2009; mas, pela Sagrada Família, descruzemos os braços e façamos o ano-novo.



Crônica publicada na revista Estilo OFF de dezembro/2008.

domingo, 9 de novembro de 2008

ESCATOLOGIA DAS COISAS E DE PESSOAS

Enfim acabaram-se as eleições. Todo cronista que se preze faz sinopse do fim de tudo: de olimpíadas, seqüestro, crise econômica, mala de dinheiro apreendida pela polícia etc. O fenômeno do continuísmo, festejado por uns e criticado por outros, deu ares de tendência como se esperava: onde o prefeito fora bem avaliado reelegeu-se, ou a um poste; ao contrário, foi derrotado ainda que tivesse colado sua imagem à de Lula com ou sem o consentimento do presidente.

Em Itaperuna tivemos um plebiscito. Era dizer SIM ou NÃO à continuidade. A cidade foi partida quase ao meio. Surgiram panfletos apócrifos de lado a lado. É pena que quem pagou pesquisas não tenha divulgado o teor qualitativo para sabermos por categorias sociais quem disse o quê. Mas apenas 4,41% quiseram se riodejaneirizar (É que por aqui não havia candidato posando de sunga de crochê). Daí que, passo agora a defender segundo turno para nós e para o povo de Pato Branco. É a última chance para que a questão da educação (a mais importante de todas) possa entrar em pauta de discussão. Como previra, o cenário é de festa. A esta altura, eu acho mais prudente que o clima fosse de transição: pacífica, objetiva e republicana.

Quanto ao Legislativo, convenhamos! Dou um doce a quem me apontar um eleito que não tenha se associado a cambistas para a prática de simonia sobre o dever e o direito sagrados do voto. Vão dizer que é implicância minha com esse poder. Estão certos, absolutamente. Vou repetir: dez assistentes sociais contratados pela prefeitura fazem mais barato (e melhor!) o serviço ao distinto público que todos os vereadores e agregados. De toda forma, Retiro do Muriaé foi o único distrito a eleger vereador e logo dois de uma vez. Anotem aí: ao final de um ano ou dois... três?! tá bom! o mandato inteiro vamos ver se a vida das pessoas que vivem lá irá melhorar. Eu torço para que sim.

Terminaram também as XV Olimpíadas Regionais dos Estudantes de Medicina, que o povo sabia apenas pela alcunha de OREM e até agora não acredita que o epíteto do poeta Juvenal ''mens sana in corpore sano'' tivesse alguma coisa a ver com os acontecimentos. Muitos nem sabiam que se tratava de jogos olímpicos. Outros criam piedosamente serem cruzadas religiosas pelo deslocamento da tonicidade na sigla do evento. A despeito de muita especulação a priori e muita fofoca durante, a posteriori tudo acabou bem. Uma “cabeça-de-nego” aqui, uns manequinhos de chafariz lá, injeções de glicose acolá e muito qüi pro có alhures; nada que não se possa abater na conta dos lucros. A rede hoteleira e o comércio em geral que o digam.

O que não acabou bem na foto, todos sabem, foi o seqüestro em Santo André. Admitamos! Há alguma coisa errada quando a polícia devolve ao seqüestrador uma das reféns. Isso não pode fazer parte de nenhuma estratégia que não seja a do suicídio ou do homicídio. Acho que vão perdurar interminavelmente os estudos periciais que determinarão se os tiros que atingiram as reféns se deram antes ou depois da invasão do apartamento pelo GATE e, também, se saíram mesmo da arma do seqüestrador.

A crise econômico-financeira globalizada ainda não acabou e parece mesmo interminável e cada vez mais próxima de nós. Na edição de julho, eu adiantara aqui que nossos hermanos argentinos iriam acabar com a previdência privada deles, lembram?! Pois é, Cristina Kirchner acabou de fazer isso. No entanto, erra, infelizmente, quem celebra os estertores do capitalismo. Ele é hegemônico mesmo na bancarrota e, como não há outra via em curso, vai continuar impondo a política das Bolsas e o tamanho dos nossos bolsos. Há algo de risível nessa crise, concordemos. Trocaram o nome ESTATIZAÇÃO por NACIONALIZAÇÃO a fim de nos fazer acreditar que socorrer os bancos comprando seus papéis podres com o dinheiro público é patriotismo. Então reconheçamos nossa derrota e adotemos o epitáfio que Drummond nos escreveu em sua Elegia 1938: “Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.”

Bem, esse negócio de dinheiro para financiamento de campanhas políticas (leia-se, na maioria dos casos, para compra de votos) pode acabar com a biografia de uma pessoa. Mas - como ensina a amiga Beth Senra - sobre loucos, fica para a próxima.


Crônica publicada na revista Estilo OFF de novembro/2008.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A cidade urge e a crônica ruge

Itaperuna já conta 119 anos. Em que pese o tempo vivido sem o registro oficial, quando não era ainda nem Maria e nem João, já garantiu um século e tal de vida. Por espírito de modernidade, ou por descuido com seu patrimônio histórico, a cidade parece bem mais nova. Não tem os casarios de fachadas centenárias; ao contrário, os últimos estuques da belle époque vão dando lugar a construções utilitaristas da arquitetura moderna - apressadamente mais prática e menos enfeitada.
Penso que o sol abrasador que se derrama por aqui a aquecer em demasia os miolos pode ser o responsável por este espírito imemorialista que grassa. É claro, não se pode desprezar também outros fatores; congênitos, talvez. Ou então não se explica essa mutação tão particular, individualizada mesmo. O município que já foi “o maior produtor de café do país” não produz um grão sequer. A primeira Câmara com maioria antimonarquista cuida pouco ou nada dos assuntos republicanos. Uma das maiores feiras agropecuárias do Estado se transformou numa festa chinfrim. A temperatura aprazível da Mata Atlântica caminha a passos largos para se transformar num tórrido clima de deserto. A serpente mansa que há pouco nos permitia até festival de cascudos, agora agoniza assoreada e aterrada sem uma reverência. Não são réquiens decretados pela modernidade, mas incúria: falta de respeito pela cultura, negligência com o presente e deboche para com o futuro. Se eu fosse Rimbaud diria que
“Chove, de manso, na cidade
Chora em meu coração
como chove lá fora.
Por que esta lassidão
me invade o coração?”


A crítica a minha cidade não é indelicadeza; é apreço e cuidado. Lembrar o que ela era não é saudosismo besta; é consciência de suas potencialidades desperdiçadas. Falar de suas mazelas não é pedantismo inconseqüente; é esperança insistente. É que ela poderia ser muito melhor do que é. Precisamos voltar a ser uma comunidade, trazer de volta valores perdidos na sôfrega busca de crescer. Aliás, já crescêramos (quem sabe?) mais do que devíamos. Urge desenvolver.
Não vou dizer uma palavra sobre, não farei um elogio e nem tratarei como demérito ao que dizem ser avanço e progresso. Em números absolutos: reconheço a democratização das nossas instituições, esta conquista nacional; percebo o avanço das oportunidades de trabalho no bojo do desenvolvimento do país; admito o incremento da escolarização na mercantilização da Educação; testemunho o crescimento populacional no inchaço de habitantes flutuantes. Entretanto, a pergunta é: nossa cidade é mais feliz? Ou, Itaperuna é menos triste, pelo menos?
Parece que padecemos de um entrave antropológico. Somos Puris. Tivemos de lutar contra a cobiça de bandeirantes e aventureiros. Sofremos aldeamento, isto é, fomos viciados e ficamos dependentes de produtos que só os brancos possuíam como sal, gordura, roupas e aguardente. Fomos dominados. Ficamos enfeitiçados por um falso progresso, como agora.
Nenhuma administração pública irá providenciar para a cidade aquilo que seus cidadãos não possam fazer de per si. A saída é pela porta. Resgatemos os valores culturais de nossa gente, ou nos aldeemos novamente. Restabeleçamos a memória, ou percamos a identidade. Preservemos o que nos resta, ou nos vendamos à especulação. Recuperemos nosso pioneirismo político, ou nos alijemos de vez. Reconstruamos nosso ecossistema, ou nos caustiquemos definitivamente. Reinventemos a cidade ou nos depauperemos no continuísmo. Nesse ponto, não há meio termo: essa coisa morna entre o amor e o ódio. Tenho dificuldade de esperar e talvez não haja tempo para mim. Mas não fujo à luta: tenho filhos e netos.
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A esta altura, os itaperunenses já elegeram seu novo prefeito. Um cenário deve ser de certo marasmo; a sensação de que o atual governo não irá acabar em dezembro, mas continuará por mais 4 anos tendo à frente outro mandatário. Nesse caso, a vantagem é uma transição acordada, pacífica e serena. Deve haver muita gente revoltada e denunciando compra de votos. Outro é o da euforia. Um reboliço que irá abreviar os próximos 86 dias: malas e valises, limpeza de armários e winchester - nem sei se ainda se usa essa palavra, mas como a onda é retrô...-, entrega de chaves, queima de arquivos e muita, muita expectativa. Em ambos os casos, ficarei como Abraão: Esperando, contra toda a esperança. (Rm 4:18).
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E a parada gay, hein? Saiu mesmo. Fiz pesquisa: 97% dos presentes não sabiam o que é Conlutas. Mas isto não teve a menor importância. Na escala Richter de agitação, uns 6 graus. Suficientes para abalar certas estruturas. Não aconteceu a prometida descida do fogo purificador do céu para queimar o povo GLBT; nem mesmo a chuva, coisa muito mais comum. O que se viu foram Joões e Marias numa demonstração de que se pode ser feliz sem ter que pagar dízimo. Sei não, acho que estamos reinventando Itaperuna.


Crônica publicada na revista Estilo OFF de outubro/2008.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

celular de gente mal-educada

Não estou fazendo apologia ao comportamento do professor Luiz "Mauro"; posto esse vídeo para que abramos o debate. Mas, convenhamos, se a meninada não se dá conta do que é incoveniente e deseducado, a nossa paciência tem limite.


sábado, 4 de outubro de 2008

Breve descrição e análise da disputa pela Prefeitura e pela Câmara de Itaperuna nessas eleições 2008.

Excertos de minha participação na Comunidade “Eleições Itaperuna 2008” no Orkut.

"A Escolha é irmã gêmea do Destino" - Dos candidatos a Prefeito

Minha preocupação com uma eventual eleição do Claudão é que, além de ele não ter energia física para um mandato - é o que parece -, quando foi prefeito teve a sorte de governar sob a égide do início da vigência da nova Constituição (1988) que permitiu, naquele momento, grande arrecadação fiscal pelas prefeituras através de renúncia fiscal (se não me engano) de Estados e da Federação. Não creio que nosso "Claudão" tenha paciência para lidar com a Lei de Responsabilidade Fiscal que, se não engessa um pouco as administrações, deixa administradores "obreiros" bastante frustrados.

Romualdo, com quem já tive a oportunidade de conversar me deixou a impressão de um cidadão com idéias modernas de administração e vontade de pô-las em prática. Entretanto, não me pareceu conhecer quase nada de administração pública e de ter, até mesmo, pensamento equivocado acerca da condução da máquina municipal. Tenho, ainda, o testemunho de minha irmã e meus sobrinhos que foram lesados pelo "banco" de sua antiga imobiliária.

Quanto a Elias Daruís, confesso saber quase nada a não ser que tenha cumprido bem seu papel como secretário de saúde.

Como vêem, preciso urgentemente de mais subsídios para fazer a melhor escolha.

Eu preciso ouvir os candidatos para escolher. Infelizmente não tenho disponibilidade para participar dos comícios que este ano, certamente, terão mais conteúdo e menos circo. Os programas radiofônicos e a propaganda volante realmente não são suficientes para nos ajudar a escolher o melhor candidato. Aliás, às vezes atrapalham, pois ali é o marketing que escolhe por nós. Gosto de ouvir o candidato "olho no olho". Claro que já tenho alguns requisitos pré-escolha como:
a história de vida;
o serviço à comunidade;
a ficha limpa;
a preocupação com educação e saúde, principalmente;
os companheiros de chapa;
os partidos e candidatos a vereador que apóiam;
o grupo político;
a lucidez das idéias etc.

Eu estou nessa comunidade porque acho que ela poderá me ajudar a fazer a melhor escolha. Não quero dar passinho, andar em círculo, ter uma abelha morando no meu ouvido, ou ter que escutar meu celular tocando Pour Elise por 4 anos. Não tenho pré-conceitos e nem me presto a ser claque de ninguém. Gosto de discutir idéias e falar com pessoas, mas não gosto muito de falar das pessoas, sobretudo fazer acusações ou defesas que não possa sustentar com provas ou testemunhos.

Espero que este grupo tenha muitas pessoas na mesma situação que eu. E que, haja aqui gente ética que goste de discutir em alto nível os problemas da nossa cidade.

José Egydio - Uma personagem polêmica fora e dentro da campanha política de Itaperuna

Na verdade, José Egydio é diletante. Faz as coisas só por curtição, zuação. Ele não precisa, não depende da política itaperunense pra nada.

A Mídia e a Campanha - Sobre a entrevista na InterTV

Por que o candidato CLAUDÃO não participou da série de entrevistas na InterTV? Alguém aí sabe informar o que aconteceu?

Se eu fosse da coordenação de campanha do Claudão, também aconselharia a não ida dele à entrevista. Tardim (o entrevistador) - que é itaperunense; estudou em nossas escolas; tem grande competência e conhece Itaperuna - coloca sempre os candidatos na berlinda (aliás, esse é o seu papel). Mas, se essa é a melhor decisão na condução de uma campanha como a do 45, ela tem também um custo: ter que explicar à opinião pública a omissão. Nesse ponto e em todos os outros, meus amigos, acho que os marqueteiros deveriam falar a verdade. Qual o pecado em dizer que o nosso Claudão não tem condições de enfrentar uma entrevista adversa ou uma viagem a Campos? Elias e Dr. Romualdo não foram brilhantes em suas respostas e também enfrentam esse questionamento dos eleitores que assistiram às entrevistas e daqueles que tiveram notícias dela, mas eles apostaram na ida à TV. Toda atitude dos candidatos traz ora ônus, ora bônus e ora as duas coisas.

Apoio do PRESIDENTE - As duas candidaturas que polarizaram tentam convencer o eleitor de que têm o apoio de LULA.

Bem, gente, duvido muito que o Presidente Lula saiba do que acontece em Itaperuna. Nosso país tem mais de 5 mil municípios. E mesmo que um ministro ou um assessor tenha falado alguma coisa a respeito de nós, o presidente não tem como nos colocar em sua agenda de preocupações. O que ocorre é que Lula se tornou um fenômeno de popularidade e, nestas eleições, todo marqueteiro quer colar em seu candidato a imagem do Lula, o apoio do Lula, o beneplácito do Lula. Às vezes isso fica legal; outras, causa espécie ver gente que sempre criticou o presidente - mesmo depois de ele ter sido eleito e reeleito - usando seu prestígio junto aos eleitores. Esse é o caso em questão. Nenhum dos três postulantes a prefeito de Itaperuna já votou em Lula uma vez sequer na vida (acredito!). Mas isso também não é pecado. Pois ninguém é obrigado a ter apoiado Lula desde 1989 como é o meu caso, que votei nele em todas as suas candidaturas à presidência. O que importa, daqui pra frente, é a capacidade de articular apoio dos governos estadual e federal para gerir as políticas públicas em nossa cidade. Nesse ponto, torço para que - qualquer um que vença essa eleição - tenha gente capaz de fazer essa ponte com o presidente. Então, trazer para os palanques nomes ligados ao presidente é legal para nossa cidade.
Mesmo sem ter podido comparecer aos comícios, tenho notícias de que tanto Claudão quanto Elias Daruís têm feito esse dever de casa. Conheço nomes como o de Godofredo Pinto, de Luciano D'Angelo e de Júlio Bersot (particular amigo). Por isso, acredito que, seja quem for o próximo prefeito, estaremos bem. Pelo menos quanto a isso.

A disputa por uma vaga na Câmara - Da conjuntura do Poder Legislativo.

É claro que os atuais vereadores têm mais chances de se reelegerem que os novatos.

01 - Luiz Roberto da Silva - PP
02 - Bolivar Sanches – PMDB
03 - Carlos Alintor Bandoli Boechat - PSDB
04 - Dalvi Macedo - PFL
05 - Emanuel Medeiros da Silva – PP
06 - João Batista da Silva – PSDB
07 - João Cunha Neto – PP
08 - José Geraldo Esposti – PMDB
09 - Luiz Fernando N. da Gama Gouveia - PMDB
10 - Samuelson Tinoco de Oliveira – PFL

Também eleitos na última eleição: Alexandre da auto-escola e Dilsão (ex-secretários).

Por isso acho que a lista acima não sofre grandes mudanças. Entretanto, isso depende muito das coligações proporcionais que foram feitas. Neste sentido, nomes nem tanto conhecidos como: Tim Dentista, Flávio Lemos, Adeilson, Elias Machado (já teve mandato), Nelma Lemos, Zampier (ex-vereador), Moreira estão no páreo, não acham?!

Aliás, acabo de ouvir um “analista” político de nossa cidade dizer que a renovação da Câmara poderá ser de 50%.

Mais ética e menos ceticismo - Do nível da discussão na Comunidade do Orkut.

Ainda bem que a maioria de nossos políticos não pensam na coisa pública como alguns nesse fórum. Ao contrário, vêem política com grandeza.
Desculpem o desabafo; mas, convenhamos! Aqui há quem acredite que qualquer dos três candidatos a prefeito ou quaisquer dos mais de cem candidatos a vereador desejam o mal para a nossa cidade? Ora, minha gente, todos querem fazer o bem. A diferença maior talvez seja na metodologia e na perspectiva de melhores resultados, isto é, no planejamento das políticas públicas.
Então, é uma grande bobagem ficarmos "metendo o pau" neste ou naquele. São todos cidadãos itaperunenses, que desejam chegar à prefeitura para implementar suas idéias de como melhorar a vida de todos nós.
O trabalho nosso é escolher o melhor ou o mais viável dentre ele, certo?!

Encerramento da Participação - De quando as coisas esquentaram na Comunidade e preferi me retirar.

Esta é a palavra: "Diferenças políticas têm que ser respeitadas". Quem não puder agir assim deveria estar afastado do convívio social.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Eleições, Celulares e Celeumas

A escolha é a alma gêmea do destino.
Sarah Ban Breathnach

Há 20 anos, ninguém esperava por um telefone celular. No máximo, algumas pessoas desejavam um telefone sem fio. A indústria providenciara uns aparelhinhos que nos permitiam andar livremente pela casa - às vezes, até pelo quintal - sem o incômodo cordão espiralado a estorvar-nos a liberdade. Para atender a demanda comercial, a ciência procurava miniaturizar o rádio a fim de que se tornasse um telefone de caráter móvel.

De Hertz (1888) aos Laboratórios Bell (1947), a telefonia móvel não passava de rádio-transmissões. Em 1973, a Motorola lança o primeiro telefone celular com 25 x 7 cm pesando 1 quilo (um tijolão!). Na década de 1980, japoneses e suecos completaram a obra iniciando o processo de digitalização. No Brasil de 1990, a Telerj lança, na cidade maravilhosa, o nosso primeiro celular. Aí não parou mais. Segundo a Anatel, em julho deste ano, chegamos a 135.330.980 assinantes do Serviço Móvel Pessoal, com um incremento de 24,17% nos últimos 12 meses, muito além do crescimento do país. Pelo que se vê, o celular - agora com status de substantivo da língua portuguesa - transformou-se no produto mais vendável (e por certo, rentável) deste milênio.

Quando da transição de Telerj para Telemar, pelos idos de 1997, trabalhava como consultor - vendedor, pra ser mais preciso - da empresa. Uma de nossas tarefas era fuçar nichos de mercado para vender telefonia móvel. Lembro-me de que ficávamos elucubrando sobre que tipo de profissional desejaria adquirir um telefone celular. Hoje - claro que o celular é muito mais coisas do que um telefone móvel - não procuraríamos clientes somente entre profissionais disso ou daquilo, mas entre todos os humanos de todas as idades, de todos os credos e de todas as classes sociais.

A celularmania tem tomado proporções tão impressionantes que pipocam nos estados, e até em municípios, leis que visam coibir seu uso em determinados espaços como nas escolas e presídios, por exemplo. Alguns líderes religiosos têm pregado severamente e lançado pragas e castigos contra sua presença em templos e afins. Os órgãos de patrulhamento do trânsito fazem lembrar que o artigo 252 do CTB proíbe a condução de veículo com apenas uma das mãos ao volante. Então, falar ao celular enquanto dirige pode custar, além da multa, a perda de 4 pontos na carteira. Já há até mesmo diagnóstico sem prognóstico da Nomofobia - medo de ficar incontactável através do telemóvel. Segundo pesquisa, entre os britânicos, 53% dos usuários de celular sofrem deste tipo de fobia.

Precisamos nos lembrar de que somos uma sociedade de classes e, é claro, o modelo de celular que se usa é sim uma demonstração de pertencimento a uma casta. Mas esse é um detalhe de menor visibilidade. À distância todos os aparelhos parecem iguais. O status agora está em você ser um “recebedor” ou um “ligador”. Quanto a isso, já se inventou toque de chamada a cobrar que responde com um hit debochado: “um pobre ligando pra mim”. E os “recebedores” ganharam a alcunha de celular “pai-de-santo”. Para roubarem um celular, os bandidos primeiro perguntam à vítima se o aparelho é pré ou pós-pago, e também se “tira foto”. É um perigo não ter a maquininha adequada, pode-se ofender o marginal e as conseqüências serem desastrosas.

Adotei o mote de um amigo que diz ser o celular uma “coleira eletrônica”; não uso. Estou pensando mesmo em fundar o MSCdeC: Movimento dos sem celular de consentidos. Quero lutar pelo direito de não ter um número de celular. De não ser encontrado e incomodado em qualquer lugar e a qualquer hora pelo toque nervoso de uma chamada telefônica; de não ser interrompido; de não atrapalhar o sermão do pregador ou a aula do professor; de não estragar a ereção; de não guiar um veículo perigosamente; de não contrair mais uma doença; de não permitir que a indústria da telefonia crie em mim uma necessidade onerosa. Além disso, nosso movimento irá orientar certos usuários - segundo diz minha mãe, “não têm um pinto pra morrer de gogo” - que não se precisa de um celular, esse caça-níquel, para se ter uma vida melhor; ao contrário.

Não estou querendo criar celeuma ou fazer tempestade em copo d’água; mas, convenhamos, há pessoas que nos incomodam quando falam ao celular. Não é só pela altura da voz. É por atenderem mesmo, ainda que peçam licença aos presentes. Se se deslocarem buscando discrição fica pior.

É inegável a utilidade de um celular, mas usá-lo mal não é nada chique. Agora mesmo, o TSE lançou mais um filmete da campanha Vota Brasil. O celular do protagonista (João Paulo) atende com a música Pour Élise - com todo respeito ao grande Beethoven, mas essa peça é muito usada em secretárias eletrônicas, atendimento de 0800 etc. e por isso virou sinônimo de espera monótona - e toda vez ele se emociona e chora ao lembrar que há quatro anos comprou aquele celular. A agência de publicidade constrói a metáfora da aquisição de celular como uma ESCOLHA: o voto pra vereador dado na última eleição. O texto em off encerra dizendo que “Quatro anos é muito tempo. Principalmente quando as coisas não vão bem. Por isso pense bastante antes de escolher o vereador da sua cidade. É ele quem vai fazer as leis e fiscalizar o prefeito nos próximos quatro anos.” Espero que você não escolha o seu vereador como se compra um celular. Ou teremos de ouvir por muito tempo essa musiquinha chaaaaaaaata.

Artigo publicado na Revista Estilo OFF em setembro/2008.


quinta-feira, 28 de agosto de 2008

VOTA BRASIL

Achei de muito bom gosto, criativa e bastante objetiva a Campanha do TSE para chamar a atenção dos eleitores em relação às conseqüências do seu voto nas eleições municipais.
Inclusive, estou trabalhando todos os textos com meus alunos de 1ª série do Ensino Médio a fim de que eles discorram sobre as metáforas do VOTO.
Como exemplo dos filmentes, posto aqui um dos mais recentes:

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

MUTATIS MUTANDIS

Eu presto atenção no que eles dizem
Mas eles não dizem nada
Humberto Gessinger

Dizem que o quadro para o pleito eleitoral em Itaperuna está definido. Há até mesmo quem antecipe resultados. Mas, convenhamos, não parece que a campanha política começou. Claro é que a justiça eleitoral (Resolução nº 22.718 do TSE) deu uma, digamos, engessada nos partidos e candidatos fazendo valer novas regras. A confecção (parágrafo único art. 15) e a distribuição de material de campanha (§ 4º art.12); os outdoor (art.17); a participação da imprensa (§ 3º art.20); o uso da internet (art.18); os comícios (§ 3º art. 12) tudo ficou mais contido - pelo menos por enquanto e onde os TREs conseguirem fiscalizar. De toda sorte, ainda que as placas - fatalmente serão fixadas nas residências particulares - não possam ter mais de 4m2 (um exagero de poluente visual) e a intolerante poluição sonora (propaganda volante) continue sendo permitida, teremos eleições mais limpas (!); melhor dizendo, menos sujas.
Quando disse que a campanha parece não ter começado ainda, refiro-me ao interesse das pessoas pelo destino da cidade, pela consecução das políticas públicas, pela questão da ética e da moralidade administrativas e legislativas. Mas esse é apenas um ponto de vista. Não se pode descartar a possibilidade de um amadurecimento da escolha popular, isto é, por moto próprio o povo achou de não dispensar tanto tempo nessa discussão, de não gastar 4 meses para escolher os gestores do seu município. Também não estamos livres de uma onda de desinteresse. Aliás, é o que mais tenho testemunhado por esses tempos: pessoas que dizem não estarem nem aí; pois, repetem elas, “não faz diferença”, “todos são iguais”, “nada irá mudar”, “é tudo ladrão” etc. Compreendo-as, a despeito de não fazer coro com esse desânimo pessimista. Não creio que alguém possa evitar a Política. Prefiro achar que não precisamos mesmo de tanto tempo para escolher nossos representantes municipais, que já é hora de diminuir esse recesso e que o Marketing, esse filho meio prostituto da ciência, seja limitado.
O desenrolar desta campanha irá pôr luz a esses questionamentos. Que a fala dos aspirantes seja capaz de atrair - como no tempo em que eu era criança - as multidões (não estou falando de claque) aos comícios sem artistas. Espero, sinceramente, por isso. Acho mesmo que toda gente deveria escolher seus candidatos mais por ouvi-los que por lê-los ou por deles terem notícias. Não importa se fizeram no passado ou se farão no futuro, importa se têm energia, se têm competência e talento para fazerem aqui e agora.
Dizer que o quadro está definido soa prematuro. Essa campanha poderá nos reservar surpresas ainda maiores. A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) está divulgando lista de candidatos que respondem a processos criminais e eleitorais; por enquanto aos cargos de prefeito e vice-prefeitos das capitais; mas, brevemente, também de vereadores nas cidades menores.
De qualquer forma, sem querer pautar o discurso dos candidatos, acredito que Itaperuna merece uma agenda construída com base na realidade. Aqui quero destacar apenas dois pontos oriundos de dados oficiais das esferas federal e estadual recém-publicados:
Quanto ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - Ideb.
>A rede municipal de ensino apresentou números razoáveis que podem ser melhorados. Nas séries iniciais avançamos de 4,6 para 5,0; entretanto, regredimos de 4,5 para 4,3 nas finais. Nosso entendimento é que o maior esforço - leia-se investimento - deve estar concentrado na educação infantil, como já vem sendo feito.
Ao tal do ICMS verde.
>Não fizemos nosso dever de casa. Com uma área de 1.103,5 Km2 ficamos com apenas 1,964834 no índice final de conservação ambiental. Para entender o que significa isto basta saber que Cachoeiras de Macacu (1º lugar) ficou com 5,171205 e vai ganhar, no ano que vem, perto de R$ 2 milhões para gastar como quiser (também quem quiser faça aí uma regrinha de 3 para o valor de Itaperuna). Traduzindo melhor o calhamaço de números e índices da Fundação CIDE, diremos que nosso município precisa melhorar sua rede de esgotos (único quesito em que pontuamos) e sair da estaca zero, implantando: tratamento do esgoto, áreas de conservação com cobertura vegetal, coleta seletiva e destinação final dos nossos 860 gramas diários, por habitante, de lixo deixado em vazadouros a céu aberto.
Fico pensando no discurso dos candidatos tanto a prefeito quanto a vereador; é um déjà vu: eles prometem tudo, especialmente o que não podem cumprir. Por isso se diz que elegeremos um prefeito de quem ficaremos por 4 anos falando mal. Eu ficaria mais satisfeito vendo esses moços e moças discutindo: as possibilidades da nossa cidade vir a ser um lugar melhor para se viver; um protocolo de incremento da Educação Básica de um município que parece só pensar em Educação Superior; como poderemos reverter o desmatamento e tornar isso uma oportunidade de desenvolvimento com geração sustentável de renda. Chega de ouvir anedotas da vida alheia, esse regalo gratuito, vamos apurar o ouvido. Eu presto atenção no que eles dizem. Espero que digam alguma coisa.


Publicado na revista Estilo OFF em agosto/2008

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Aqui a coisa é mais embaixo

Os melhores planos de ratos e homens costumam dar errado.

Robert Burns

Deve ser horrível morar num país como a França. Lá vivem fazendo reformas no instituto da Previdência Social. Por mais que a sociedade francesa tenha alcançado o chamado estado de bem estar social, os governos vêm, sucessivamente, solapando aos poucos os direitos dos trabalhadores. Imagine que agora querem aumentar de 40 para 41 anos o tempo de serviço para requerer a aposentadoria. Além disso, buscam também flexibilizar, a favor das empresas, a tal semana de 35 horas.

A queda de braço entre trabalhadores e governo explica-se obviamente pelas divergências de entendimento do que seja a garantia da sobrevivência de um sistema previdenciário que universalizou o atendimento e cujo cálculo atuarial não previra um avanço tão significativo na expectativa de vida dos indivíduos. Lá vige também um “terrorismo demográfico”, que é como os sindicalistas chamam a alegação do governo de que há sempre mais gente se aposentando para menos trabalhadores ativos.

Ocorre que, além de as pessoas estarem, cada vez mais, vivendo mais - o que significa pagamento de pensões e aposentadorias por mais tempo - elas têm a péssima mania de recorrer a atestados médicos (mesmo sem estar de fato doentes) para conseguirem licenças médicas que as afastem do trabalho e garanta-lhes um razoável período de improdutividade laboral por conta do dinheiro público. Isto sem falar, é claro, de milhares de pessoas que conseguem aposentar-se por invalidez, sem estarem inválidas. Lá existe até mesmo uma máfia branca que comercializa atestados médicos. Eles são comprados segundo solicitação dos fregueses e seus valores variam em razão dos dias de afastamento e do Código Internacional de Doenças. Para entendermos o que significa isto, vamos a um exemplo. A professora, ou o balconista de uma loja, precisa faltar ao serviço na segunda-feira da semana que vem por razões tais como: aniversário da tia, um fim de semana prolongado na praia, ressaca que talvez tenha por um porre programado para o domingo, enfim... basta solicitar ao médico que lhe dê um atestado de uma doença qualquer de que será acometida e que lhe impedirá, miseravelmente, de trabalhar na dita segunda. Aproveitando que o discípulo de Hipócrates está ali mesmo, com a caneta e o papel nas mãos, estica a licença até a terça ou a quarta que não (?) custa nada. Há até mesmo casos notórios de gente que deixou de prestar depoimento em delegacias, em juízos, em CPIs etc. amparada por atestado médico quando era sabido, publicamente, que a única coisa que não existia era algum problema de saúde. Desgraça das desgraças dos gauleses é que para cada 20 ou 30 médicos, cheios de ética e pudor, que não concedem atestados desses aos quais estamos referenciando, há 1 ou 2 que montam verdadeiras lojas de comercialização de folga do trabalho ou de estado de exceção.

O governo, ultimamente, tem reformulado os critérios para licenciamentos de saúde e pressionado os peritos médicos a fim de que ajam com mais rigor na concessão de benefícios previdenciários. Essa política, entretanto, acarretou uma verdadeira guerra entre os peritos e aqueles que aqui no Brasil chamamos de “encostados”. É incrível, mas os peritos passaram a correr risco de morte em seu trabalho. Muitos “encostados” costumam ameaçar, às vezes de arma em punho, o profissional da Previdência que ousa lhes cortar o benefício. Outros peritos, por conta de interesses que não são os públicos, continuam a conceder benefícios mesmo àqueles que não estão doentes. De modo que, todo francês conhece alguém que tenha se aposentado por invalidez sem nunca ter estado inválido e esteja “encostado” sem ser portador de doença alguma, exceto algum mal de caráter. Pasme! Uma amiga francesa contou, por e-mail, que numa cidadezinha do noroeste da França, chamada Bon Jésus, a polícia, após buscas e apreensões em consultórios médicos, hospitais e na Câmara de Vereadores, prendeu uma quadrilha composta de advogados, servidores da própria Previdência e políticos locais que vinha desviando nada mais nada menos que 10 milhões de dinheiros. As investigações avançaram depois que a polícia especializada descobriu que mais de 10% da população da cidade recebia algum benefício previdenciário. Adiantou-me, ainda, que na cidade vizinha de Chemin de la Pierre Noire também há uma outra quadrilha que certa e infelizmente ora vende, ora concede aposentadorias e auxílios-doença em troca de votos.

Chega a ser cômico (na verdade trágico!) que essa francesada que vive a custa da previdência sem o mérito - esse não é o melhor vocábulo, mas que fique assim mesmo, já que estamos falando de avacalhação - da doença e/ou da invalidez é a primeira a “meter o pau” no governo quando esse precisa reformar a Previdência para que ela não quebre de vez. Estão sempre presentes nas passeatas e nos protestos contra as reformas. Parece mesmo que as centrais sindicais de lá - CGT e CFDT (lembre-se de que estamos falando da França) têm um departamento só pra cuidar desses sócios, quero dizer, associados vegetais, desculpe-me, orgânicos, sem os quais não se pode fazer ajuntamento de gente, pois as outras pessoas estão trabalhando para sobreviver e manter de pé o sistema previdenciário.

A coisa é feia por lá. Sarkozy - o marido da Carla Bruni - deverá enfrentar a fúria das centrais entre agosto e setembro para fazer uma reforminha previdencial. Durante o governo Chirac-Raffarin tentou-se privatizar a previdência. Mas, 2 milhões de franceses foram às ruas para protestar e barrar o processo. Tivessem entregado o distinto público aos cuidados da iniciativa privada, talvez agora, como nossos hermanos argentinos, precisassem socorrer os fundos de pensão, estatizando-os, para que não implodam. Isto pode vir a acontecer na América do Norte e na Europa, em geral, onde os fundos estão a ponto de quebrar.

Como brasileiros, podemos ensinar ao “mundo civilizado” que não há Previdência Social que resista a esse estado de usurpação de bem público por uma parcela da população que só quer levar vantagem. Lá, como aqui, é preciso pôr muita gente atrás das grades antes de reformar as previdências pública e privada, porque nem eu nem você queremos chegar ao momento do gozo descobrindo que alguém botou a mão e “mexeu no nosso queijo”.



Artigo publicado na revista Estilo OFF- julho/2008.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Fazer economia é submeter consumo à emergência da poupança

Somos ainda uma economia muito vulnerável. Temos ainda problemas sérios. Por isso, não podemos brincar nessa parte, para que a gente não tenha um retrocesso.

Luis Inácio Lula da Silva


Quando eu era comunista tinha uma relação com a Economia completamente paradoxal: abominava os pilares do capitalismo, entretanto era um consumidor quase compulsivo. Poderia em minha defesa dizer que fora arrebanhado pelo marketing do capital, mas que minha inteligência continuava a apontar o socialismo - tudo em comum - como uma convergência da sociedade humana. Por isso virara um romântico idealista naqueles idos de 1980. Acho que essa minha trajetória é a mesma de muitos contemporâneos.

Parei de achar que poderia mudar o mundo sem primeiro mudar a mim mesmo. Deixei de pensar que todos os erros e defeitos estão nas instituições e não nas pessoas. Abandonei a idéia de que nossas condições sociais são frutos de um determinismo absoluto e hereditário. Uma das mais importantes razões para essa mudança é fruto de experiências pessoais e observação. Quando o governo federal lançou com pompas e circunstâncias o crédito consignado para os aposentados e pensionistas do INSS, não acendi nenhum foguete; ao contrário, preocupei-me assaz. Mais ainda, ao ver artistas famosos da televisão caindo em cima dos nossos idosos para convencê-los de que esses empréstimos eram a última moda “em Paris”. Desesperei-me! Estavam pegando na teia do consumismo até os mais experientes ainda que “obrigados” por seus filhos, netos ou agregados que, não sabendo administrar suas finanças, viram no empréstimo consignado a terceiros uma tábua de sua salvação.

A idéia me é antiga. Mas agora retorna com força de convicção: é preciso educar nossas crianças, jovens e adultos para o consumo. E não é possível esperarmos do Rádio, da TV, dos Jornais e das Revistas que façam esse favor social. A Escola precisa assumir mais esta tarefa. Educação fiscal e para o consumo devem estar nos currículos escolares já.

O país vem alcançando avanços em termos econômicos, mas o fantasma da inflação - filho do consumo exacerbado - paira a poucos metros de nossas cabeças. E o Presidente da República fala com preocupação, pois ninguém quer ser o pai de um processo inflacionário, o retrocesso é péssimo nas biografias. É claro que nossa sociedade tem notícias do tempo em que vivíamos sob forte desvalorização do dinheiro. Tem notícias também dos tempos de escassez de energia elétrica e de combustíveis automotivos. Todos ficaram sabendo disso, mas poucos aprenderam com isso. Não fossem verdades esses lapsos de memória pessoal e coletiva nossas contas de energia elétrica não teriam voltado a apresentar um consumo igual ou superior ao dos tempos de pré-apagão. Não basta ter recordações disso, é preciso ter aprendido com isso.

Fico observando os trabalhadores que estão passando por “aperto” financeiro. Têm um traço comum, vulgar mesmo: todos acreditam que precisam de aumento de renda. Coisas do tipo empréstimo financeiro pessoal (CDC, LIS, Cartão de Crédito, Agiotas etc.); as menos insensatas correm atrás de um trabalho extra (bico, biscate, hora-extra, plantão, GLP, AJT etc.). Entretanto, poucos, poucos mesmo acordam na segunda-feira dispostos a poupar.

Ora, na grande maioria dos casos a solução não está no aumento da renda - panacéia para o diagnóstico apressado da penúria financeira; mas na poupança - medicamento tópico para um prognóstico de sucesso. Conheço pessoas que, por mais que seu salário seja o que acham que deveria ser, jamais alcançarão estabilidade financeira.

O jornalista norte-americano Orison Marden, morto em 1924, já dizia que “a economia consiste em saber gastar e a poupança em saber guardar". Fosse ainda vivo, certamente diria que “saber gastar” e “poupança” são absolutamente a mesma coisa. Por isso insisto em que fazer economia é submeter os objetivos do consumo à emergência da poupança.

Tive um chefe que sempre dizia ser o problema de seus subordinados não o ganhar pouco, mas o gastar muito. Eu o corrijo e desfaço sua antítese: gastar mal. E onde quer que ele esteja agora, se pudesse ler este artigo se sentiria um professor que não me fez apenas tomar conhecimento das coisas, mas me fez aprendê-las.

Professor Zeluiz

Centro Interescolar de Agropecuária de Itaperuna

Água vai, choro vão



Sexta-feira, 2 de novembro de 2007

O Poema "Água vai, choro vão" foi recitado por Loran, que representou a equipe Tsunami - vitoriosa - na XI Agrogincana do CIAPI.




Corre a água nas veias da Terra
Como seiva sangüínea, povoa de vida
Valões e rios e oceanos.
No indefectível devir, some fluida no ar
Passeia no céu surfando nuvens
Entroviscam-se
Gotas
P
L
U
V
I
A
I
S
Nos veios abertos navegam gente e bicho e planta e pedra
A que a água pede passagem, carrega e dá resgate.
Mas, súbito...
Cessa o curso:
paralisa,
aprisiona,
quimioterapiza
artificializa
mete etiqueta
e vende a vida em metros cúbicos,
pipas, garrafas e garrafões no templo da Terra.
Olho-d'água sujeitado ao lucro
Contingenciado
Medido
Escasseado pra valer.
Dá água nos olhos lembrar a bica no quintal
Saudades
L
A
C
R
I
M
A
I
S

Enfim, férias! Mas é só um recesso, em 2008 a gente volta.

A todos que andaram por aqui visitando este blog, meu profundo agradecimento. Espero que as festas deste final de ano tenham mais do que comidas, bebidas e presentes ensacolados. Sejam um momento de reflexão também. Quando somos ainda jovens somente contamos o tempo pra frente: o que há de vir e como será. À medida que amadurecemos passamos a olhar o tempo que foi: o quanto e o como. Mas a VIDA é esse fio da meada que se desenrola na cronologia dos dias até quando existirmos. Portanto, cada ação nossa, cada escolha, cada passo é decisivo para sermos o que somos.
Desejo não basta - eu sei! É preciso querer e realizar. De qualquer forma desejo que você vá se encontrando consigo e com os outros; que aprenda das coisas todas - do por fora e do por dentro -; que esteja sempre disposto a crescer com as trocas que fará
pela vida afora; que não fique sempre com cara de pastel diante da realidade, mas que absorva a novidade com a sabedoria de que já vai amadurecendo aos poucos, devagarinho, pois não se deve ter pressa alguma pra envelhecer; que, sobretudo, ame a si e aos outros e às coisas, porque tudo é sagrado se pertence a mais de uma pessoa; finalmente, e por isso, não se economize: participe, compartilhe, não guarde muitos segredos - eles são danados pra nos roubar o tempo.
Um grande abraço terno e apertado dum coração saudoso!

Itaperuna, sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

A INCLUSÃO DIGITAL NO ERJ: O ESTADO DA "ARTE"

A situação é confusa mesmo, como de resto andam confusas as atitudes do governo do Estado. Pra mim, a SEE está "jogando um jogo" pra platéia. Ora cobre a cabeça - na hora que tem gente prestando mais atenção a essa parte - e descobre os pés - com os seus calcanhares de Aquiles - ora cobre os pés e descobre a cabeça. É um jogo meio sem graça tanto de jogar quanto de assistir; pior ainda é quando somos a BOLA de reserva e a da "vez".
O fim da função de OT já foi publicado no DO? Alguém tem essa informação? Caso contrário, por que estamos "correndo" pra voltar à sala de aula?! Nós também estamos jogando esse jogo?!
Lembram que tivemos de assinar um "protocolo de intenções" onde nos comprometíamos a não desistir do jogo antes de a partida acabar?! Lembram?!!!! O documento era unilateral, eu sei; mas a recíproca não tem que ser verdadeira?! Agora o Estado pode simplesmente nos "desconvocar"?! No meio do JOGO?! Cancelar os pontos a favor da Educação que juntos fizemos?! Não devíamos apelar pro juiz? pro bandeirinha, sei lá?! Alguém nesse país do jogo que seja mais coerente?! Ah! por falar nisso, muitos OT fazem um curso de pós-graduação - que só existe em razão desse importante jogo que jogamos contra a time de exclusão - e é um convênio com a federação. O governo do Estado do Rio de Janeiro pode simplesmente pegar a bola, pô-la debaixo do braço e dizer que o jogo está terminado?!
Peraí!!!!!!!!!! Será que não há nenhuma outra saída nesse jogo de muitas perguntas e pouca ou nenhuma resposta? Quem tem um atalho aí, por favor? Nós não podemos simplesmente morrer nesse RPG. Ai!, como ziguezagueia essa política do "ensino"! De quatro em quatro anos se quer mudar as regras do jogo, interromper a partida no meio, distribuir beijinhos pra platéia - que, eta-ferro, é alienadinha - e ainda por cima, mandar os jogadores jogarem em outra freguesia.
Não costumo acompanhar esses motes gritados pelas torcidas, dizer que o país é um país de merda, essas coisas feias. Mas agora sou obrigado a concordar: _Governo de mentira! Educação vil! Manda OT pra sala e finge que não viu. Ou então: _Au! Au! Au! Quem fechou os LIEDs foi o seu Cabral.
Valha-nos Deus! Estamos num jogo perigoso toda a vida. Quantas vidas ainda temos pra gastar nesse jogo?! E, o adversário está jogando sujo. Está nos provocando a fim de que desanimemos e acabemos por abrir mão das estratégias que acreditamos serem as melhores para a peleja.
Parece que a partida foi interrompida... Nenhuma Tv vai noticiar?! Elas adoram um mundo cão. Vamos! Luz, câmera, ação!


Itaperuna, domingo, 18 de março de 2007

Direitos Imprescritíveis do Leitor (Daniel Pennac)

I - O direito de não ler.
II - O direito de pular páginas.
III - O direito de não terminar um livro.
IV - O direito de reler.
V - O direito de ler qualquer coisa.
VI - O direito ao bovarismo (doença textualmente transmissível).
VII - O direito de ler em qualquer lugar.
VIII - O direito de ler uma frase aqui outra ali.
IX - O direito de ler em voz alta.
X - O direito de calar

Itaperuna, sábado, 7 de junho de 2008

Violência: descaminho social

A chamada civilização -"preeminência" do mundo ocidental - sempre exercitou seu poder através da violência seja física, moral e/ou psicológica. Contra a criança a violência mostra sua face mais cruel: desequilibra as relações humanas e fomenta sua perpetuação junto à espécie. Mas, temos caminhado em busca de soluções que vão do institucional às tentativas de reeducar os adultos para a convivência em sociedade.
O exercício do poder pela violência faz vítimas principalmente entre as crianças. São elas a porção mais frágil e portanto mais suscetível ao sofrimento. Talvez a violência tenha se tornado um modus vivendi da sociedade, isto é, faça parte da cultura de muitos povos. De outro modo não se pode compreender como ela tem permeado a história das sociedades desde a violência física, imposta aos "sacos de pancadas", na Idade Média, até aos Modernos meios de violência, tais como: a exposição a certos programas de televisão, a reclusão, a precocidade forçada, o trabalho infantil.
Não se pode ignorar a questão genética em sua composição. Entretanto, são muito mais importantes, no estudo da violência, as causas sociais. Sejam quais forem as razões sociais da violência contra a criança, no centro da questão irá estar a causa motivadora primeira: a falência de um sistema social em que o ter, há muito, suplantou o ser quebrando o equilíbrio ecológico da pessoa humana.
O stress do mundo moderno pode toldar de tal sorte a mente ao ponto de levar as pessoas a comportamentos violentos como forma de extravasar a ansiedade ou compensar perdas. Mas, para além disso, parece-nos que nossa sociedade, esquecida de sua origem de cooperação, optou ou foi levada a optar pela competição. Desse modo, até mesmo a criança pode representar, ainda que circunstancialmente, um competidor a ser derrotado, ou um estorvo a ser removido do caminho. Numa perspectiva histórica, o que mais chama a atenção é o crescimento da desfaçatez com que a violência é praticada, chegando mesmo a sua completa banalização.
De qualquer forma, no que diz respeito às instituições, o Estatuto do Menor e do Adolescente vem representar um passo importante no estabelecimento do direito e no combate à violência estrutural em nossa sociedade. Ainda que nos achemos a caminho de uma sociedade multiculturalista em que as crianças venham a ser respeitadas enquanto pessoas, o verbo ainda é "tolerar". A tolerância é a complacência de alguém que se julga superior, mais importante que outro, estando pois muito longe do ideal de respeito, de direito, de justiça com que as pessoas em sociedade se devem tratar. Mas o caminho é mesmo este: educar para a não-violência através do resgate permanente da cidadania, e combater a violência através da lei.

Itaperuna, sexta-feira, 6 de maio de 2005.

Pondo brasa na sardinha de mais gente

O texto "Mudar a mudança: da escola que fazemos à escola necessária" pode ser lido na seção Sua Voz do sítio www.educacaopublica.rj.gov.br

A tecnologia da informação (é) e a oportunidade de inclusão

O atual estágio do desenvolvimento da tecnologia é realmente surpreendente. No que diz respeito então às tecnologias da informação, tendo como carro chefe a telemática, é um novo conceito de "Túnel do Tempo" que estamos criando, pois mudaram completamente a utopia do "tele-transporte" - aquela velha idéia de podermos estar presentes em um outro tempo e espaço - que embalou tantas civilizações. Agora, não nos transportamos para um lugar distante, mas trazemos o lugar distante até nós. Essa evolução só pode ser comparada à diáspora do Homo Sapiens, no dizer de Morin1, da raça humana sobre a Terra, nos primórdios da conquista do planeta.
Dito assim, o avanço tecnológico parece ser um empreendimento da humanidade para a humanidade. Entretanto, sabemos que, se evoluímos tanto do ponto de vista das conquistas científicas, o mesmo não ocorre no plano da consciência social. Vê-se mesmo o contrário: quanto mais se avança na produção de bens e serviços de alta tecnologia, mais se amplia também o abismo entre as classes sociais na maioria dos países e no mundo inteiro. Infelizmente, na utopia do professor José M. Moran, ao dizer que "Na sociedade da informação todos estamos reaprendendo a conhecer, a comunicar-nos, a ensinar e a aprender; a integrar o humano e o tecnológico; a integrar o individual, o grupal e o social." o todos é apenas uma generalização ideologizada. De qualquer forma, é preciso não perder a convicção de que, se o espaço da educação não for o da superação dessa diferenças, isso não se dará em outro lugar, pois "A escola é um espaço possível de luta, de denúncia... e de procura de soluções, ainda que precárias e parciais."2
Por outra, é mister reconhecermos que o advento das novas tecnologias, vencidas as amarras econômicas, pode se transformar num equalizador das diferenças, num oportunizador de condições mais justas na busca da superação das distâncias sociais. Basta lembrar que, há pouquíssimo tempo atrás, e perdura até hoje em muitos lugares, somente os indivíduos que viviam nos grandes centros desenvolvidos, ou aqueles que dispunham de recursos para se deslocarem até os mesmos, gozavam do privilégio de poder estudar e se aperfeiçoar profissionalmente. A esse respeito, agora, muita coisa mudou.
Não há dúvida de que a Educação à Distância é um modelo educacional promissor; sobretudo, quando se trata de estudos complementares ou suplementares avançados. Nesse campo, já se provou a sua eficácia, eficiência e efetividade. Mas isso não tira dela, ainda, o caráter meio experimental. Afinal, é preciso que transcorram algumas gerações forjadas nessa metodologia para que se possa dizer, com segurança, que tenha se tornado um modelo seguro.
Uma nova ordem educacional se instala a partir das modernas tecnologias da informação. O próprio fundamento do que chamamos biblioteca se esgarça para dar espaço a uma outra plataforma de pesquisa e armazenamento do saber científico: a webloteca.
Por hora - não se contesta -, o uso da Internet é mais do que solução para o avanço e democratização do conhecimento; ele é inexorável. Daqui para frente, somente através de conexão com a rede mundial se poderá acompanhar o ritmo das exigências e das demandas estabelecidas pela dinâmica da sociedade global.
Destarte, é preciso que lancemos mãos à obra a fim de tornar o ensino à distância uma realidade mais palpável para todos os brasileiros. Para isso é urgente que capacitemos, cada vez mais e melhor, professores de todos os níveis. E, aqui, capacitar é também dar condições para que os mesmos rompam o processo de exclusão digital de que são vítimas em razão da penúria econômica a que lhes têm legado os governos.

Itaperuna, quinta-feira, 14 de abril de 2005.



1 - MORIN, Edgar. Educar na era planetária: o pensamento complexo como método de aprendizagem no erro e na incerteza humana. Trad. Sandra Trabuscco Valenzuela. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNIESCO, 2003.
2 - ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e Martins, Maria Helena Pires - Filosofando, Introdução à Filosofia. 2ª ed. Moderna. São Paulo, 1998.

Democracia direta, já!

A democracia é o pior dos regimes políticos, excetuando todos os outros.

Winston Churchill

É intrigante - mas não surpreendente - que as elites, tanto a intelectual quanto a política de nosso país, sempre tenham trabalhado a exaltação da democracia como o melhor dos regimes políticos; entretanto, seus delicados e exigentes estômagos nunca suportaram ouvir falar de sua forma direta.

Na verdade, só conhecemos dois regimes: a ditadura e a democracia. O anarquismo e o comunismo são só uma utopia ensaiada e enterrada alhures. De qualquer forma, por absoluta falta de uma fundamentação teórica que pudesse tangenciar o intelecto do populacho, resolveu-se explicar assim: a ditadura é a ausência de democracia e a democracia é... bem!... a democracia vem do grego demo = povo e cracia = governo. Assim, explica-se que é “o governo do povo”. Aqui há, no mínimo, uma simplificação que, se de caso pensado, é criminosa. Vejamos: na Grécia antiga, berço da “democracia”, as mulheres, os estrangeiros, as crianças, os escravos não participavam das decisões políticas - já começa aí a sacanagem. Na verdade, só uma elite masculina decidia, para o bem ou para o mal, as questões do Estado. Você pode estar já pensando “mas a democracia avançou muito; há o voto das mulheres, dos analfabetos e, além do mais, nem temos mais escravos”. Sim! Isto tudo é verdade. Como é verdade também que ao elegermos os parlamentos e os gestores públicos deixamos de exercer a democracia direta e passamos uma procuração para que outros decidam por nós e em nosso nome. Eu já estou ficando de saco cheio disso.

Sempre ouvi a explicação de que a democracia moderna não poderia ser direta pela impossibilidade espacial de reunir todo o povo para uma decisão - que não era o caso na Grécia, com uma população de pequena escala. Mas, de vez em quando - duas ocasiões até agora, desde a Constituição de 1988 que recriou isto - o povo é chamado para decidir uma questão mais polêmica. Mas, gente! será que ninguém pensou que democracia é como é simplesmente porque não havia tecnologia para ser diferente.

Com o avanço da chamada inclusão digital - agora mesmo o governo estadual está conectando os professores da sua rede à internet - é até um pecado que o voto seja apenas eletrônico e não informatizado. Explico: Mais de 26 milhões de brasileiros fizeram declaração de Imposto de Renda e outros mais de 70 milhões farão Declaração de Isento, a maioria absoluta pela internet. Isso passa perto do número de eleitores do país. Já pensou que quase todos os brasileiros têm pelo menos um celular? Quem vai continuar dizendo que é impossível fazer democracia direta? Só aqueles a quem essa participação on line não interessa. Vou dizer uma coisa pela qual me chamarão fascista, ditador: penso que não precisamos mais de parlamentos em nenhum nível de governo. Se a desculpa é de que não há um lugar para reunir 187 milhões de brasileiros, agora já temos: o ciberespaço. Ah! mais uma coisinha: nenhum projeto ficaria engavetado; nem por pouco nem por muito tempo. Meu Deus! e os custos? Segundo a Transparência Brasil (http://www.transparencia.org.br/index.html), o Congresso brasileiro gastou R$ 11.545,04 por minuto durante todos os dias de 2007 (são R$ 6.068.072.181,00 por ano). Pensemos em Itaperuna: uma economia de mais de 5% da arrecadação do município. É grana pra caramba! O melhor de tudo: não teríamos que nos decepcionar, em menos de um ano de mandato, com o sujeito em quem votamos pra vereador.

Quanto ao Executivo, duas reforminhas seriam implantadas pela Democracia Direta. A primeira delas acabaria com a “reeleição”. Esperem eu molhar o bico! A emenda constitucional n° 16, de 4 de julho de 1997, diz que “O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subseqüente”. É só retirar a parte que diz “para um único período subseqüente”. Claro! se o povo - mesmo na democracia indireta - resolver dar, por exemplo, um 3º mandato para o presidente Lula, isso é democrático! Se for decisão do povo... não me venham dizer desse negócio de uso da máquina e coisa e tal. Peloamordedeus! Se vamos lançar mão desse argumento, então é melhor que se acabe com a reeleição, com a prorrogação do prazo de validade dos concursos, com a gratificação por tempo de serviço etc. Já a segunda, trata do instituto daquilo que os ingleses chamam recall, isto é, chamar de volta. Periodicamente, o povo - não através de pesquisa de opinião, em que se paga pelo resultado que se deseja - pronunciar-se-ia, plebiscitariamente, a favor ou não da permanência do Executivo.

Há quem acredite que eleição é solução de todos os problemas, é a pedra de toque da democracia. Eu prefiro mais democracia e menos eleições. Se não for para evoluir, para mudar e acompanhar o tempo, então Churchill tinha razão: a democracia também é uma merda. Aí vou querer experimentar outros regimes, sofrê-los, prová-los. Que tal um anarquismo à moda da casa? Aí prestaríamos uma elegante homenagem à Zélia Gattai, que se foi neste 17 de maio, e seríamos todos “Anarquistas, graças a Deus”.

Vou te mostrar com quantas cordas se faz um berimbau


Não reproduzirei aqui as declarações do professor doutor senhor Antônio Dantas, coordenador do curso de medicina da Universidade Federal da Bahia, em que “explica” o baixo desempenho dos seus alunos no Enade. Outros coordenadores, e mesmo reitores, lançaram mão de argumentos igualmente inconsistentes, mas pelo menos mais pacíficos.

A Faculdade de Medicina, fundada quando da passagem da corte portuguesa pela Bahia, comemorou, agora em fevereiro, seu Bicentenário. Ou a ciência médica não ajuda em nada a melhoria da saúde de uma população, ou os baianos - que provavelmente constituem a maioria de seus alunos - formados pela FAMEB nunca exerceram sua profissão. Paradoxo por paradoxo, o estado da Bahia estaria deserto hoje em dia, por inegável que é a responsabilidade de uma política eficiente de saúde na superação, ano após ano, da taxa de expectativa de vida; nesse caso, ainda que a Bahia esteja no 21º lugar no ranking da expectativa nacional de vida, foi um dos estados que mais avançaram no acumulado dos últimos 26 anos - segundo o IBGE - passando de 50,71 para 71,72 anos; muito perto da média nacional.

É interessante como os administradores, principalmente os públicos, quando pegos em sua incúria não pestanejam em jogar na defensiva. Nunca assumem suas culpas; elas são sempre de outrem. Neste caso, é dos estudantes de medicina do último ano de graduação, segundo o senhor Dantas. Talvez, por ele, nem se fizesse necessária a avaliação do Enade. Pelo que disse, era sabedor de que o curso, sob sua coordenação, era insuficiente para formar médicos; ou, como declarou, os alunos eram incompetentes para estudar medicina na sua faculdade. Isto, entretanto não me parece uma coisa só. Estamos falando de acadêmicos do último período, que passaram anos estudando, sendo avaliados e aprovados... Este assunto é de extremo interesse público, pois outras faculdades também foram “reprovadas” na avaliação do MEC. Pelo andar da carruagem, faz tempo que os brasileiros estão nas mãos de profissionais que cursam faculdades julgadas insuficientes por seu órgão regulador.

Não sei em qual dos grupos o meu caro leitor postula: no dos que acreditam que a escola faz o aluno, ou entre os crentes de que é o aluno quem faz a escola. Em ambos os casos, acho que está certo. Mas podemos resumir assim: uma escola ruim não pode dar a um bom aluno tudo de que ele necessita para ser um bom profissional; uma boa escola pode transformar um aluno não muito brilhante em um profissional competente. De todo modo, fico com um outro axioma: “Quem tem fama, deita na cama”.

Mas, para além dessa questão, o fulcro de nossa conversa é o preconceito exarado pelo coordenador que citei já mais de uma vez. Fico me lembrando de tantos baianos ilustres, em todas as áreas do conhecimento e em todos os tempos, que povoam o altar dos famosos do Brasil. Num exercício de pesquisa, recolhi a fala de alguns que serve de respostas baianas ao julgamento escarninho do coordenador:

Rui Barbosa em discurso na Faculdade de Direito de São Paulo, 1920: Não imiteis os que, em se lhes oferecendo o mais leve pretexto, a si mesmos põem suspeições rebuscadas, para esquivar responsabilidades, que seria do seu dever arrostar sem quebra de ânimo ou de confiança no prestígio dos seus cargos.

[...] para dizer ao povo da Bahia que em nossas relações sou o único devedor. Do saber do povo me alimentei e se alguma coisa construí, ao povo o devo. Minha obra não é mais do que pobre recriação de sua grandeza. Jorge Amado em discurso de posse na ABL.

João Ubaldo em “Brasil, um país dos mesmos”: É meio chato o sujeito nascido em meados do século passado descobrir, numa série aparentemente infinita de pequenos episódios deprimentes, que passou a vida sendo enrolado e acreditando em bobagens.

Castro Alves, em “Improviso”, gritaria à mocidade acadêmica:



Moços! A inépcia nos chamou de estúpidos!

Moços! O crime nos cobriu de sangue!

Vós os luzeiros do país, erguei-vos!

Perante a infâmia ninguém fica exangue

Protesto santo se levanta agora,

De mim, de vós, da multidão, do povo;

Somos da classe da justiça e brio,

Não há mais classe ante esse crime novo!

Sim! mesmo em face, da nação, da pátria,

Nós nos erguemos com soberba fé!

A lei sustenta o popular direito,

Nós sustentamos o direito em pé!

Discurso de Edith Mendes Gama e Abreu pronunciado no 2º Congresso Feminista, em 1931: É mister do feminismo, senhores, elaborar essa reforma de costumes e de leis derrubando os ilogismos do preconceito, guiando com a justiça e o amor a partilha dos direitos entre a criaturas, para que as gerações do porvir não conheçam esses contrastes violentíssimos de miséria e opulência, de domínio e sujeição, de gozo e sofrimento, de luz e treva do espírito.

Adonias Filho em seu discurso de posse na ABL: E, definindo-me - quando os reencontro à sombra da definição -, já agora como escritor do meu tempo, não posso evitar o que exigem no fundo mesmo da sua obra. Exigem a luta contra a censura ideológica, contra o comando do partido único nas artes e nas ciências, contra o bloqueio cultural - que tentei estudar em um dos meus livros - ainda hoje oprimindo povos e humilhando o homem.

Zélia Gattai - baiana por adoção, diria: _Senti-me invadida por um sentimento de revolta, veio-me à cabeça uma frase anarquista... Não vacilei, levantei-me da mesa, encostei-me à porta e larguei o verbo, com a mesma entonação com que havia aprendido, com o mesmo dedo em riste que ele empregava:

_“Quando lá fórza e la ragion corístrasta, vince la fórza. La ragion non basta!” (Anarquistas, graças a Deus).

É uma pena que Machado de Assis não tenha nascido baiano, se o tivesse poderia responder ao coordenador com um aviso ao leitor: A minha idéia, depois de tantas cabriolas, constituíra-se idéia fixa. Deus te livre, leitor, de uma idéia fixa; antes um argueiro, antes uma trave no olho.

À exceção do de João Ubaldo, todos esses discursos foram emprestados de defuntos. Fazem idéia de como essa trupe está lá do outro lado proferindo impropérios? Pois como disse Brás Cubas: O olhar da opinião, esse olhar agudo e judicial, perde a virtude, logo que pisamos o território da morte; não digo que ele se não estenda para cá, e nos não examine e julgue; mas a nós é que não se nos dá do exame nem do julgamento. Senhores vivos, não há nada tão incomensurável como o desdém dos finados. Por isso, valho-me de um discurso de vivo que bem expressaria a sentença desses mortos se ainda tivessem o viço e a infeliz oportunidade de ouvir aquela história de berimbau com mais de uma corda:

Me larga, não enche
Você não entende nada e eu não vou te fazer entender
Me encara de frente:
É que você nunca quis ver, não vai querer, não quer ver
Meu lado, meu jeito
O que eu herdei de minha gente e nunca posso perder
Me larga, não enche
Me deixa viver, me deixa viver, me deixa viver, me deixa viver

Cuidado, ô xente!
Está no meu querer poder fazer você desabar
Do salto, nem tente
Manter as coisas como estão porque não dá, não vai dar
(...)
Eu vou
Clarificar a minha voz
Gritando: nada mais de nós!
Mando meu bando anunciar:
Vou me livrar de você (Caetano Veloso em “Não Enche”)

Estou me segurando por aqui a fim de não viajar até a gostosa Salvador pra dizer uns desaforos in loco.